Em pleno arranque do ‘open banking’, os bancos estão a substituir a aplicação MB Way por soluções próprias que “amarram” os clientes, com o propósito de cobrar comissões diferenciadas nas transferências através do telemóvel.
Segundo noticiou o Público no domingo, os cinco maiores bancos a operar no mercado nacional estão a apostar nas aplicações tecnológicas para dar resposta às novas necessidades, cada vez mais digitais, dos consumidores.
Mas a estratégia que está na base dessas soluções (a NB smart app, a App Millennium, a App Caixa Easy, a App Santander e a BPI App) mantém princípios do “velho” modelo de negócio bancário, nomeadamente o de querer que os clientes tenham relações comerciais de exclusividade, penalizando, através da cobrança de comissões, quem quer trabalhar com várias instituições, nacionais ou estrangeiras.
A estratégia de “fechar” o negócio, num momento em que está em curso o ‘open banking’, forçado pela inovação das empresas tecnológicas na área financeira e imposto por legislação comunitária, explica a “concorrência” que os maiores bancos estão a fazer em relação à app MB Way.
A aplicação criada pela SIBS (empresa que gere a rede Multibanco e que é detida pelos maiores bancos) permite o pagamento de compras, realizar transferências imediatas e fazer levantamentos de dinheiro através de um telemóvel de nova geração (‘smartphone’) ou de um tablet.
Mas ao contrário do MB Way, onde todas as operações são gratuitas, e em que é possível associar até oito cartões bancários, de várias instituições financeiras – desde que pertençam ao grupo dos bancos aderentes -, as soluções internas de banco são fechadas, aceitando apenas os cartões bancários de cada instituição e cobrando pelas transferências. As comissões são aplicadas independentemente do valor, que em muitos casos é de poucos euros (o limite máximo é de 2.500 euros recebidos e enviados por mês).
Esta situação, que já esteve subjacente à criação das chamadas contas-pacote, trava a liberdade de muitos clientes que, no limite, têm de instalar várias aplicações para “fintar” as comissões, mas que, em alguns casos, não o conseguirão (caso do BCP, que, embora menos, cobrará nas duas app), avançou o Público.
Isto é contrário à Diretiva dos Serviços de Pagamento, cuja adoção está em curso, e tem como principais objetivos a inovação financeira, a eficiência, a redução de custos e a segurança nos serviços de pagamento.
Os bancos mais avançados na criação de soluções internas, o BPI e o Millennium BCP, foram os primeiros a criar comissões elevadas pelas transferências feitas com os seus cartões (a partir das suas contas) na MB Way, ou seja, fora das app próprias.
O BPI cobra (desde 01 de maio) uma comissão elevada (1,248 euros com imposto de selo) por cada transferência feita através da app MB Way. As transferências realizadas através da BPI app estão, atualmente, isentas.
A partir do próximo dia 17 de junho, o Millennium BCP vai passar a cobrar 52 cêntimos (incluindo imposto do selo) nas transferências realizadas na app Millennium e 1,248 euros aos que utilizarem a aplicação criada pela SIBS.
Isentos de pagamento na app interna ficam os clientes mais jovens (até 23 anos), e os que têm contas Programa Prestige, Programa Prestige Directo, Portugal Prestige, Cliente Frequente ou Millennium Go! (mais de 50% dos clientes, segundo o banco).
A NB smart, do Novo Banco, já garante todas as funcionalidades de MB Way, segundo adiantou ao Público fonte oficial, mas ainda não começou a cobrar, nem revela a partir de quando o poderá fazer. No seu preçário está inscrito a cobrança de 15 cêntimos apenas nas transferências MB Way.
O Santander e a Caixa Geral de Depósitos ainda estão a ultimar algumas funcionalidades, mas será uma questão de semanas ou de poucos meses para estarem disponíveis. O Santander já assumiu que também vai cobrar pelas transferências realizadas por MB Way, possivelmente a partir de julho, mas não revelou os valores nem os critérios de pagamento, e no preçário do banco ainda não consta qualquer valor.
O presidente do banco, Pedro Castro e Almeida, apenas adiantou (na apresentação de contas trimestrais) que a estratégia de comissionamento passará por incentivar o uso aplicação interna, e, tal como no BCP, ficarão isentos os jovens e os clientes com maior envolvimento com o banco.
O banco público tem previsto no preçário o custo de 15 cêntimos para as transferências através da Caixa Easy para MB Way (entre clientes Easy estão isentas) e 0,20 cêntimos para ordens a partir da MB Way.
À solução lançada pela SIBS (criada a 12 de outubro de 2015, entretanto melhorada) já aderiram 22 bancos: ActivoBank, Banco Atlantico Europa, Banco CTT, Bankinter, BBVA, Best Bank, BIG, BPI, Caixa Crédito de Leiria, Caixa Agrícola de Mafra, Caixa Económica da Misericórdia de Angra do Heroísmo, Caixa de Crédito Agrícola, Caixa Geral de Depósitos, Deutsche Bank, EuroBic, Millennium BCP, Montepio, Novo Banco, Novo Banco dos Açores, Popular, Santander Totta e Unicre).
Segundo informação da SIBS, “cerca de 90% dos cartões bancários em circulação em Portugal estão habilitados à adesão ao serviço MB Way”.
TP, ZAP //
Fonte: ZAP