O médico cirurgião António Peças, afastado do INEM por alegadamente se ter recusado a helitransportar doentes e após ter sido apanhado numa tourada quando disse estar “indisposto” para transportar um paciente, recebeu 77 mil euros pelos serviços prestados à entidade em 2017, sendo pago nomeadamente pelos transportes que rejeitou.
Estas contas são avançadas pelo Diário de Notícias (DN) que apurou que Peças recebeu do INEM pagamentos de 77 mil euros em 2017, sendo pago também pelos transportes de doentes que recusou fazer.
Peças recusou transportar dois doentes urgentes e foi apanhado numa tourada quando tinha dito que estava “indisposto”, com diarreia e vómitos, para transportar outro doente. Mas mesmo estes serviços que não prestou, terão sido pagos pelo INEM.
O DN aponta que “basta estar escalado” para os serviços de emergência para se receber. Os médicos ao serviço do INEM ganham 20,89 euros à hora quando estão escalados durante o dia, até às 20 horas. Depois dessa hora e aos fins-de-semana, o valor passa para os 40 euros por hora, conforme dados avançados pelo jornal.
O médico trabalha há vários anos no INEM, tanto nas VMER como nos helicópteros. Mas a sua principal actividade é como cirurgião no hospital Espírito Santo de Évora, onde pertence aos quadros e onde “faz as 40 horas semanais em três dias, um de 24 horas nas urgências e dois de oito horas cada”, como destaca o DN.
Além disso, também acompanha touradas como médico de prevenção, estando a ser investigado pela Ordem dos Médicos, pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) e pelo Departamento de Investigação e Acção Penal de Évora, suspeitando-se de que terá prestado serviços a mais do que uma entidade em simultâneo, sendo pago por ambas.
Indemnização de 44 mil euros por afastamento abusivo
Desde o início da semana que António Peças tem estado no centro das atenções mediáticas, depois de ter sido afastado do INEM.
Mas já em 2012, António Peças tinha tido problemas com o INEM, tendo sido retirado das escalas da viatura médica de emergência e reanimação do hospital de Évora, onde trabalha.
Na altura, em 2012, a coordenadora da escala da VMER do hospital de Évora decidiu retirar o médico das escalas, após uma troca de emails em que considerou que António Peças tinha sido ofensivo.
Quatro ano depois, em 2016, o médico voltou às escalas por decisão do tribunal do trabalho de Évora, que considerou ainda que António Peças tinha direito a receber uma indemnização de 44 mil euros.
Segundo escreveu o Diário de Notícias em 2016, o tribunal de Évora condenou o hospital a reintegrar o médico por considerar que foi afastado de forma abusiva, por alguém que não tinha poder para o fazer e sem que tivesse sido aberto qualquer processo disciplinar para o efeito.
Peças esteve no sismo do Haiti e na visita do Papa
António Peças integrou, em 2010, a equipa de oito elementos do INEM que esteve a prestar ajuda e assistência às vítimas do sismo no Haiti, em Janeiro desse ano.
Foi também o médico do INEM responsável por acompanhar o Papa Bento XVI quando, também em 2010, visitou Portugal. Sobre essa experiência chegou a relatar em entrevista à agência Lusa que foi a situação em que sentiu maior responsabilidade sobre si próprio.
António Peças é um aficionado e chegou a ser forcado, tendo também estudado engenharia zootécnica.
Fonte: ZAP