As crises financeiras são como os sismos: ninguém sabe quando chegam, mas é certo que vão chegar. É o professor catedrático João Ferreira do Amaral, do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade de Lisboa, quem o diz, vaticinando que, mais tarde ou mais cedo, haverá nova crise e que as consequências podem ser “brutais” para Portugal.
As crises são “um bocado como os sismos: sabemos que vão existir, mas não sabemos nem quando nem com que dimensão e com que intensidade”. É o economista João Ferreira do Amaral quem o refere numa entrevista à Rádio Renascença, salientando que “numa perspectiva histórica da economia mundial, um período de cinco a seis anos sem crise seria já bastante bom”.
“Não está nas nossas mãos e é inevitável que haja crise financeira“, destaca o professor do ISEG, realçando que “pode é não ser já nos próximos cinco anos, pode ser daqui a mais tempo”.
Mas é certo que se surgir uma nova crise como a que começou em 2007, pode ter “efeitos piores” em Portugal, “porque o nosso nível de endividamento [público] é maior do que o que tínhamos em 2008 quando a crise apareceu”, diz.
“Fazemos parte dos três países que aliam um maior endividamento externo a um alto nível de dívida pública”, constata João Ferreira do Amaral neste entrevista, juntando Portugal, Grécia e Chipre no mesmo saco. “Esses países estão na calha para sofrerem brutalmente com uma eventual nova crise financeira, que é inevitável que venha a existir”, considera.
O economista refere que “podemos ter esperanças de que a crise não seja tão profunda como foi a outra”, mas ele pessoalmente diz-se “muito pouco optimista em relação aos mecanismos reguladores mundiais”. “Acho que não se avançou quase nada naquilo que esteve nas origens da crise financeira de 2007 e que depois se estendeu”, aponta.
O professor catedrático nota que está muito mais preocupado com a dívida externa do que com a dívida interna. “A dívida pública continua a poder reestruturar-se mesmo internamente”, enquanto que “a dívida externa torna-se muito mais complicada porque faz-se sentir através do sistema bancário e põe em causa o sistema bancário se houver uma nova crise do sistema financeiro internacional”, diz.
Foi precisamente por existirem estes “dois grandes défices” que a política de austeridade “foi extremamente exagerada”, repara o economista, destacando que “era, à partida, muito mais difícil, exactamente por existirem estas duas dívidas”.
Perante estes receios, João Ferreira do Amaral aponta o aumento do crescimento económico e das exportações como as formas de proteger a economia portuguesa das consequências mais graves de uma nova crise.
O economista que foi contra a adesão de Portugal ao Euro, considera ainda que o aumento dos partidos com posições eurocépticas e mais extremas, seja de extrema-direita ou de extrema-esquerda, no Parlamento Europeu, como resultado das eleições europeias deste domingo, pode até ser bom para a União Europeia (UE).
“Isso à partida pode até não ser tão mau se obrigar os outros a terem mais responsabilidade naquilo que fazem”, afiança João Ferreira do Amaral, apontando que “tem havido uma espécie de irresponsabilidade ao nível do que [os Governos] decidem a nível europeu”.
Sobre a moeda única, o economista diz que “não cumpriu os objectivos” para os quais foi criada. “Não deu crescimento adicional à Europa e, pelo contrário, cresceram até mais os países fora da moeda única”, nem deu “maior coesão política aos países que fazem parte da Zona Euro, pelo contrário, formaram-se clivagens muito importantes e significativas entre o chamado Norte e o chamado Sul”, constata.
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Fonte: ZAP