O famoso trevo-de-quatro-folhas está em risco de extinção. A conclusão é dos especialistas que estão a elaborar a “Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental”.
A flora vascular integra todas as plantas que, como este trevo, têm vasos destinados especialmente à condução da seiva para alimentar as células. A Lista está a ser elaborada desde 2016 e conta com a coordenação da Sociedade Portuguesa de Botânica e da Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação, conta o Público.
No trabalho de campo que se impõe, os investigadores constataram “uma forte regressão” do chamado “trevo da sorte”, cujo nome científico é Marsilea quadrifolia. Poluição, barragens e aumento das espécies exóticas invasoras são algumas das razões apontadas para esta regressão, que já começou no século XX.
O trevo-de-quatro-folhas foi avistado, pela última vez, perto de Peso da Régua, mas é um tipo de planta que aparece em locais sujeitos a inundações temporárias, como o rio Douro e outros grandes rios do Centro de Norte de Portugal.
O biólogo André Carapeto disse, contudo, que esta espécie aquática poderá estar “em dormência”, pois é capaz de ficar enterrada no fundo do rio “durante alguns anos”. Com origem nas antigas tradições dos povos celtas, acredita-se que encontrar uma dessas folhas é um sinal de boa sorte, especialmente se encontrado acidentalmente.
O alerta para a iminência da extinção do trevo-de-quatro-folhas não é de hoje. Já em 2004, a Câmara de Peso da Régua se mostrava preocupada e pediu financiamento destinado à preservação e monitorização da Marsilea quadrifolia, uma das plantas aquáticas mais raras da Península Ibérica.
Apesar de ter tido financiamento do Fundo de Coesão da União Europeia e do Fundo Ambiental, 2,8% dos encargos financeiros do projeto (no valor total de cerca de 400 mil euros) serão suportados pela Sociedade Portuguesa de Botânica.
Para tal, está em curso a campanha “Apadrinhe uma Planta da Lista Vermelha”, para que se possa apoiar uma das 25 plantas de uma lista-alvo por 12 euros cada uma, para que o projeto da lista vermelha consiga ser concluído. À escolha estão árvores, herbáceas e outras plantas de várias partes do país, todas incluídas numa das três categorias de ameaça – vulnerável, em perigo ou criticamente em perigo.
“As madrinhas e os padrinhos, além de receberem um diploma, terão o seu nome junto do da planta afilhada no portal do projeto e na publicação final em livro e na versão digital como sinal de reconhecimento pelo seu contributo”, realça Ana Francisco, bióloga e coordenadora-executiva.
A campanha já conta com o apoio de mais de 120 padrinhos. Além do apadrinhamento de plantas ameaçadas, outra forma de apoiar o trabalho destes botânicos é tornar-se sócio da Sociedade Portuguesa de Botânica.