Um cientista britânico fez uma nova leitura do controverso Paradoxo de Fermi, sugerindo que ainda não foram detetados sinais de vida extraterrestre porque a maior parte desta vida alienígena está isolada do mundo exterior.
Se os extraterrestre existem, por que não os encontramos ainda? É com isto que o Paradoxo de Fermi se debate há anos.
Numa nova abordagem ao paradoxo e tentando responder à questão que há anos inquieta a comunidade científica, David Clements, cientista do London’s Imperial College, analisou a história da vida na Terra, as condições básicas para a existência de vida e a presença de planetas e luas potencialmente habitáveis no Sistema Solar.
“Concluímos que as condições para que haja vida – águas líquidas e fontes de energia – são, de facto, muito comuns no Sistema Solar, mas a maioria dos locais potencialmente habitáveis está abaixo das superfícies geladas das luas gigantes de gás”, escreveu o cientista no artigo agora divulgado.
“Se este caso se verificar em outros lugares da Galáxia, a vida [extraterrestre] pode ser realmente bastante mas, mesmo que a inteligência se desenvolva, acaba por ser essencialmente selada num ambiente infinito, incapaz de se comunicar com o exterior”.
Para Clements, há condições para se desenvolver vida alienígena inteligente no entanto, são estas mesmas condições a barreira que os impede de comunicar para o exterior. No fundo, estas formas de vida podem existem em “mundos isolados” – o que justificaria o silêncio ensurdecedor dos extraterrestres.
A título de exemplo, o cientista mencionou a Europa e a Enceladus, as luas geladas de Júpiter e Saturno, respetivamente. De acordo com a publicação, pode haver água – uma das condições básicas para a vida – sob estes satélites naturais. Teoricamente, estas luas podem alojar “ecossistemas muito maiores do que o que exista na Terra”, pode ler-se.
Um outro estudo, publicado no início do mês de novembro na Nature Astronomy, dava já conta que Enceladus escondia um oceano e, apesar deste satélite ter menos 1% do tamanho da nossa Lua, tem um oceano com até 10% da quantidade que existe na Terra. Além disso, estudos químicos sobre os jatos de água que saem do pólo sul de Enceladus sugerem que o oceano quente e profundo desta lua pode mesmo ser uma “loja de doces” para a vida microbiana.
O cientista nota ainda que a vida na Terra parece ter emergido bastante rápido a partir do momento em que se reuniram as condições adequadas. Com isto, sugere o britânico, “pode surgir vida em qualquer lugar onde exista um ambiente compatível“.
Contudo, é ainda muito cedo para desistir da procura por vida alienígena. Em declarações à Newsweek, Clements afirma que, nos “próximos 10 a 20 anos” vão surgir várias missões e instalações de observação que “aumentarão significativamente a nossa capacidade de detetar vida noutro qualquer lugar”.
A Europa Clipper da NASA e o Telescópio Espacial James Webb (JWST) são missões que podem contribuir para detetar vida extraterrestre. Porém, importa frisar, nenhuma destas tecnologias vai encontrar vida diretamente, mas antes esboçar uma imagem mais clara de mundos potencialmente habitáveis, quer no nosso Sistema Solar, quer fora dele. Encontrar vida extraterrestre diretamente pode ser um pouco mais complicado – e demorado.
De qualquer das formas, o cientista acredita que toda a sua teoria está relacionada com o Paradoxo de Fermi, uma vez que “sabemos que as espécies que vivem na água podem evoluir até um alto nível de inteligência”, considerou. Por isso, conclui, escrutinar estes oceanos pode ajudar-nos não só a resolver o problema, como a questão de Fermi.
“Ficamos com a perspetiva assustadora de que a nossa galáxia pode estar repleta de vida, mas que qualquer inteligência no seu interior pode estar trancada sob barreiras impenetráveis de gelo, tornando-a incapaz de comunicar [com o exterior] e até mesmo compreender a existência do Universo lá fora”, rematou.
O artigo foi submetido para publicação no passado dia 15 de outubro na revista Journal of the British Interplanetary, carecendo ainda da revisão de pares. Contudo, a publicação está disponível em pré-visualização no Arxiv.org.
O Paradoxo de Fermi
O Paradoxo de Fermi é utilizado para descrever as enormes discrepâncias entre as estimativas otimistas da probabilidade de existirem civilizações extraterrestres e a falta de evidências da existência dessas mesmas civilizações.
Se o Universo é um espaço vasto e cheio de planetas potencialmente habitáveis, então onde é que estão todos os alienígenas? – esta é a grande questão do paradoxo.
Diversas teorias tentaram já explicar a ausência de sinais de vida extraterrestre – desde a ideia de que podem estar a hibernar até às explosões de raios gama, passando pela ideia de que os extraterrestres já morreram ou estão submersos nos seus planetas aquáticos.
Até então, não foi encontrada nenhuma outra forma de vida no Universo. Foi este o facto que levou o astrofísico italiano Enrico Fermi a questionar em 1950 onde estariam todos os seres alienígenas. A teoria, conhecida como Paradoxo de Fermi, ainda não tem solução, afirmando-se cada vez mais como um mistério da Ciência.
SA, ZAP //