Arqueólogos na Islândia examinaram durante décadas os restos mortais em mais de 350 túmulos da Era Viking. Em 150 amostras, foram encontrados dentes e ossos de cavalo.
Geneticistas e arqueólogos já examinaram também o ADN antigo de 19 cavalos nas sepulturas e descobriram que todos os cavalos, exceto um, eram machos.
A Islândia era uma ilha desabitada e densamente florestada até os vikings se estabelecerem nos anos 870. Os primeiros vikings foram, segundo relatos dos Landnámabók, nobres que viajaram para a Islândia com as suas famílias para fugir do severo domínio do rei Harald Fairhair.
Por volta de 930, a população da Islândia já tinha aumentado para nove mil, e é, portanto, intrigante que apenas 350 túmulos que datam da Era Viking tenham sido encontrados até agora, escrevem os autores no artigo publicado em janeiro de 2019 na revista Journal of Archaelogical Science.
“Deve haver milhares de túmulos“, disse Albína Hulda Pálsdottir, do Departamento de Biociências da Universidade de Oslo. Como zooarqueóloga, é especialista no estudo de restos de animais de escavações arqueológicas.
O modesto número de sepulturas torna ainda mais interessante estudar as que foram encontradas. Os invetsigadores querem ter uma melhor perceção de como os vikings da Islândia viveram e pensaram.
Agora, apresentam uma imagem mais clara do ritual funerário viking. Uma equipa de arqueólogos e geneticistas da Islândia, Noruega, Dinamarca, Reino Unido e França examinaram ADN antigo de 19 cavalos encontrados nos túmulos.
“É razoável acreditar que um viking que recebeu um cavalo no túmulo deve ter uma certa quantidade de poder e influência. Por isso, queríamos saber mais sobre os cavalos, por exemplo, de que sexo eram”, diz Pálsdottir.
Contudo, não é fácil determinar o sexo de fragmento de osso ou de dentes de um cavalo com mais de mil anos. Machos e fêmeas são até bastante semelhantes, tanto em tamanho como aparência.
Os arqueólogos já tentaram anteriormente determinar o sexo dos cavalos, observando os caninos e a pélvis, e descobriram que a maioria dos cavalos eram machos – chamados “garanhões”, que são cavalos machos que não foram castrados. As pélvis dos cavalos machos é diferente da pélvis da fêmea e, na maioria dos casos, os machos têm caninos grandes, enquanto a maioria das éguas não tem caninos.
“Estes métodos nem sempre podem ser usados quando os esqueletos são mal conservados. Muitas vezes, os restos mortais não contêm caninos ou ossos pélvicos. Por isso, determinámos o sexo de 19 cavalos, analisando o ADN antigo preservado nos fragmentos. Descobriu-se que 18 deles eram do sexo masculino“, diz Sanne Boessenkool, do mesmo departamento da Universidade de Oslo.
De acordo com os especialistas, os cavalos estavam no seu auge, ou seja, não foram enterrados por causa da velhice ou doença.
Cavalos como símbolo de poder
A raposa do Ártico – ou raposa polar – era o único mamífero terrestre que existia na Islândia antes de as pessoas se estabelecerem lá. Mas isto mudou rapidamente quando os vikings chegaram e importaram animais como cães, ovelhas, vacas, porcos, cabras, galinhas e cavalos.
Depois disto, passou a haver muitos cavalos na Islândia, e os arqueólogos, portanto, não sabiam o que significava quando um viking era enterrado com um cavalo. Mas quando 18 dos 19 cavalos enterrados analisados se revelaram machos, os especialistas concluíram que parece ter havido uma escolha consciente de colocar um cavalo macho no túmulo.
“É natural imaginar que a matança de animais machos viris e, até certo ponto, agressivos, deve ter sido parte de um ritual funerário destinado a transmitir status e poder”, explica o arqueólogo Rúnar Leifsson, da Agência de Património Cultural da Islândia.
Em alguns casos, os investigadores puderam ver como os animais foram mortos antes de serem colocados em túmulos vikings. “Se um crânio de cavalo tem uma fratura na testa, é claro que foi abatido com um golpe na testa. Há também alguns casos em que o cavalo foi decapitado”, explicou Pálsdóttir. .
Arqueólogos inferiram que os animais tinham sido mortos cerimonialmente, talvez na sequência de uma festividade em que caveiras eram colocadas em estacas do lado de fora do salão Viking, talvez como um sinal de alerta.
“Além dos 19 cavalos enterrados, examinamos os restos de três cavalos que foram encontrados fora das sepulturas. Todos eram do sexo feminino“, disse Boessenkool. As éguas não tinham recebido um funeral cerimonial e, provavelmente, foram comidos. A impressão é que animais machos e fêmeas tinham um status diferente.
Tem sido um desafio interpretar os restos mortais da Era Viking na Islândia, porque muitas das sepulturas foram encontradas durante obras rodoviárias ou outros projetos de construção entre 50 e 100 anos atrás.
Em muitos casos, os enterros não foram examinados por um arqueólogo e apenas uma pequena parte do material encontrado foi enviado para o Museu Nacional da Islândia. Portanto, a maioria dos esqueletos está incompleta.
“É impressionante que encontramos quase exclusivamente homens de meia-idade nas sepulturas da Islândia. Quase não há bebés ou crianças, e muito poucas mulheres. Não sabemos como o resto da população foi enterrado. Talvez tenham sido colocados em pântanos ou lagos, ou tenham sido afundados no mar”, sugere Pálsdottir.
Era também comum cremar os mortos na Escandinávia, de onde os vikings vieram. Mas os especialistas não encontraram vestígios de cremação na Islândia.