Paulo Cunha / Lusa

Guarita abandonada no complexo militar de Tancos
O diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), coronel Luís Vieira, e um arguido civil vão ficar a aguardar o desenrolar do processo de Tancos em prisão preventiva. O militar confessou que a encenação foi feita, mas alegou “interesse nacional”.
Segundo a PGR, a PJ Militar e elementos da GNR de Loulé terão ajudado o ex-militar que roubou as armas de Tancos a devolver o material, uma forma de desviar as atenções do autor do roubo e de “matar a investigação inicial”.
O arguido civil é suspeito de ter furtado as armas da base de Tancos e, depois, de as ter tentado devolver, alegadamente, com a colaboração de elementos da PJ Militar e da GNR.
Em causa estão “factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas”, segundo o MP.
Um comunicado do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) adianta que os restantes seis arguidos ficam em liberdade, embora sujeitos a termo de identidade e residência, suspensão do exercício de funções, proibição de contacto com os coarguidos e com quaisquer militares das Forças Armadas, da GNR e elementos da Polícia Judiciária Militar.
Segundo nota divulgada pelo TIC, estas medidas foram aplicadas pelo “perigo de continuação da atividade criminosa e perigo de perturbação do decurso do inquérito, aquisição e conservação da prova”.
O Ministério Público (MP) tinha pedido prisão preventiva para todos os arguidos.
À saída do tribunal, o advogado de defesa, João Magalhães, disse que o seu cliente “esclareceu tudo o que o tribunal queria ver esclarecido, respondeu com verdade aos factos pelos quais via necessidade de esclarecer o tribunal”.
“Tais factos, como é timbre de pessoas com elevada galhardia militar, deram a explicação que o tribunal lhe pediu, de forma clara e castrense“, adiantou.
O advogado disse esperar que o tribunal compreenda o peso da hierarquia militar, dentro daquilo que é o Exército, e que compreenda que há um poder político que deveria refletir sobre as palavras de um ministro que, a seu ver, “devia estar aqui”.
“O Exército é uma instituição de respeito”, sublinhou. João Magalhães argumentou que o poder político, “tal como também não respeita os médicos, também não respeita as necessidades que o Exército tem para ver cumprida a sua posição”.
Diretor da PJM confessa encenação
Segundo adianta este sábado o jornal Público, o Director da PJ Militar, que vai recorrer da prisão preventiva determinada esta sexta-feira, confessou a encenação do aparecimento das armas roubadas nos Paióis de Tancos, mas invocou “interesse nacional” para os militares terem feito um “acordo de cavalheiros” com o ladrão das armas.
Os militares, explica o Público, terão encenado o aparecimento na Chamusca das armas e explosivos roubados o ano passado, para que o ladrão pudesse devolver o material furtado sem sofrer consequências, ou seja, escapando à justiça.
Os militares, que agora se mostram “arrependidos”, terão considerado que seria melhor ter as armas de volta antes que fossem vendidas, mesmo à custa da impunidade do ladrão.
“O Estado ou o Governo devia refletir sobre uma situação que permitiu que, por falta de apoio, fosse criada, e o Exército reagisse a todo o custo para lavar a face, com uma expressão que eu diria, não faltava mais nada que as armas aparecessem sob a bandeira da Polícia Judiciária civil“, defendeu à saída do tribunal o advogado dos militares.
Fonte: ZAP


