Passar a pente fino as vidas dos políticos e candidatos, no passado, é uma forma de os partidos se defenderem de posteriores casos de conflitos de interesses. Mas, para já, nenhum dos principais partidos tem um método para conhecer o passado dos seus candidatos. PSD e Bloco de Esquerda querem ter.
Em Espanha, o Ciudadanos contratou uma “agência de inteligência privada” para investigar o passado dos seus candidatos. Já nos Estados Unidos, Barack Obama obrigada os nomeados a responder a um inquérito com 63 perguntas. Em França, Emmanuel Macron tem uma equipa que faz a verificação curricular de todos os possíveis membros.
No entanto, em Portugal, nenhum dos partidos parlamentares faz nada de parecido, adianta o Diário de Notícias na edição deste domingo.
Nuno Garoupa, professor na George Mason University, diz que a ausência de um sistema de “controlo” é uma falha e adianta que é “absolutamente inexplicável que não seja feito” qualquer escrutínio dos candidatos. Luís de Sousa, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, concorda e refere que a verificação do percurso passado de deputados, ministros, autarcas e nomeados para cargos públicos “é uma boa medida”.
O jornal avança que, no nosso país, nenhum dos principais partidos procura saber se os seus candidatos possuem ligações empresariais que, no futuro, possam originar conflitos de interesses com as suas funções públicas ou se tomaram posições políticas contrárias às que devem defender.
Só o PSD e o Bloco de Esquerda mostram vontade de escrutinar os seus candidatos e ambos os partidos garantem estar a estudar processos de verificação internos que possam funcionar no futuro. Rui Rio e Catarina Martins estão em sintonia e concordam que esta deve ser uma medida a considerar nos seus partidos.
Dramas que envolvem o passado dos políticos parecem ser um feitio do sistema. “Temos escândalos ao mais alto nível de licenciaturas falsas, obrigações fiscais ou para a Segurança Social incumpridas, ligações perigosas…”, exemplifica Nuno Garoupa. Mas os escândalos não ficam por aqui.
Temos, inclusivamente, casos mais complexos como os contratos entre empresas de militantes do PSD com juntas de freguesia geridas pelo partido, que o Ministério Público investiga na Operação Tutti Frutti, por exemplo. Ou então histórias como a dos investimentos imobiliários de Ricardo Robles ou a licenciatura de Sócrates.
No entanto, adianta o DN, nem ao nível mais alto do Estado parece haver preocupação em verificar o passado dos nomeados. Todos estes casos fariam soar o alerta interno, se os partidos dispusessem de regras para avaliar os seus candidatos. Algo que, para já, não acontece.
“Para não sofrerem danos reputacionais, os partidos deviam fazer um escrutínio intenso do passado dos candidatos, anterior às nomeações”, conclui Luís de Sousa.
Fonte: ZAP