No solo de Montalegre está uma das maiores reservas de lítio da Europa. Uma riqueza que o Governo pretende aproveitar para apostar na exploração do chamado “petróleo branco”, mas que acarreta divergências com aqueles que defendem a preservação de um território que é Reserva da Biosfera da UNESCO.
A exploração de lítio é uma aposta do Governo para os próximos anos, no sentido de aproveitar aquele que é considerado o “petróleo branco”, já que pode ser usado para fazer baterias para carros eléctricos, uma área que vem experimentando um crescimento relevante.
Para a zona de Montalegre já foi assinada uma licença de exploração de lítio e há vários pedidos de prospecção no horizonte. Um cenário que não agrada às populações locais, nem a organizações ambientalistas e de defesa da natureza que estão preocupadas com as consequências da abertura de uma mina de lítio na região.
Montelegre é Reserva da Biosfera da UNESCO, integra o único Parque Nacional português, o Peneda-Gerês, e foi considerado Património Agrícola Mundial.
“Estamos a falar de uma zona de biodiversidade importantíssima e pôr sequer a hipótese de abrir uma mina a céu aberto, paredes-meias com o Parque Nacional, é escandaloso“, considera no Diário de Notícias (DN) o dirigentes do Fundo Ambiental para a Protecção dos Animais Selvagens, Miguel Dantas da Gama.
O secretário de Estado da Energia, João Galamba, assegura no mesmo jornal que “se o impacto ambiental for negativo, não há mina de lítio“, realçando que são as empresas que recebem as concessões que estão obrigadas a fazer esses estudos.
O presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves, coloca-se “ao lado do povo”, mas refere que, “como autarca”, é “favorável a projectos que tragam riqueza, trabalho e desenvolvimento”. O autarca diz que “os nichos de agricultura” que existem actualmente “não são suficientes para travar este despovoamento” e que “a paisagem também não fixa ninguém”. Por isso, defende que a região precisa “uma indústria que traga pessoas para cá”.
Já o presidente de uma das Juntas de freguesia afectadas pela zona onde podem ocorrer prospecções, José Luís Nogueira, lamenta que a abertura de uma mina “significa o fim das explorações agro-pecuárias, que são o ganha-pão de toda a gente“.
A produtora de mel Eduarda Fernandes, uma mulher da terra que saiu para estudar Farmácia e que voltou para investir numa instalação de 500 colmeias que lhe pode “render quase 30 mil euros” por ano, teme que a mina de lítio lhe vai destruir o negócio.
“Então, lá terei de emigrar, como todos os da minha colheita”, queixa-se Eduarda Fernandes ao DN, frisando que há “um grupo de gente nova a esforçar-se por explorar novos nichos de mercado agrícola que podem ter sucesso”, e lamentando que a exploração de lítio na zona “é mais uma declaração de morte ao interior“.
“Com o barulho e a destruição que um projecto destes pode trazer à paisagem, restam-nos poucas alternativas senão fazer as malas e ir embora“, diz ainda ao DN o engenheiro do ambiente Vítor Barroso Afonso, filho de emigrantes em França que voltou à terra em 2014 para investir num projecto de ecoturismo.
O pastor de cabras e ovelhas Adérito Gonçalves, de 58 anos, lembra o exemplo das minas de volfrâmio que funcionaram entre 1902 e 1986 para notar, também ao DN, que “com a ganância de lítio pode ganhar-se dinheiro por um punhado de anos, mas depois fica a terra abandonada, pronta a arder nos incêndios”.
Quando o lítio é visto como uma solução ambiental para promover a descarbonização do planeta, a população local está organizada no protesto à sua exploração em Montalegre.
“Neste momento não deixamos ninguém subir ao monte, nem para fazer o estudo de impacto ambiental”, revela ao DN Armando Pinto, elemento da Associação Montalegre com Vida que foi criada para contestar o lítio, considerando que “já fizeram dano que chegue”.
Fonte: ZAP