A política de migrações e a troca de acusações sobre extremismos marcaram hoje o frente-a-frente entre os cabeças-de-lista do BE e do CDS-PP às eleições europeias, debate no qual a “geringonça” não foi esquecida.
Depois do debate “a seis” na SIC na noite de quarta-feira, hoje foi a vez de, na RTP3, realizar-se o primeiro frente-a-frente entre candidatos dos partidos às eleições ao Parlamento Europeu de 26 de maio, tendo Marisa Matias (BE) e Nuno Melo (CDS-PP) inaugurado este formato.
As perguntas sobre política migratória geraram uma troca de argumentos entre os dois cabeças-de-lista, tendo Nuno Melo avisado que “se as questões das migrações não forem tratadas pelos partidos moderados, vão ser coaptadas pelos partidos ditos extremistas”.
“O que eu defendo é uma política de subsidiariedade em relação às migrações, ou seja, às pessoas que procuraram emprego como acontece em qualquer país do mundo. Cada país é que sabe se deve receber migrantes — pessoas que procuram emprego — ou não”, afirmou o eurodeputado centrista, fazendo questão de distinguir a situação dos refugiados.
Para Marisa Matias é evidente que não se vive “uma crise de refugiados, mas sim uma crise humanitária”, que resultou e continua “a resultar de uma hipocrisia total da União Europeia, que continua a vender armas para os territórios em conflito” e depois tenta “convencer as pessoas de que estamos a ser invadidos”.
“Os emigrantes portugueses estão a sofrer na Europa, na pele, todos os dias, aquilo que é a política que o doutor Nuno Melo defende para a emigração”, acusou, dando o exemplo do Luxemburgo, país ao qual se deslocou e onde houve tentativa de expulsão de emigrantes portugueses.
Sobre a acusação da eurodeputada bloquista de que Nuno Melo está a normalizar a extrema-direita, o candidato do CDS-PP atirou: “Eu acho que a Marisa Matias não só normaliza a extrema-esquerda como representa o lado violento dessa extrema-esquerda quando, por exemplo, canta e ri a pedir a morte de um presidente eleito democraticamente”.
“A Marisa falar-me de extremismos é uma coisa que a mim me diz muito pouco porque, infelizmente, o Bloco significa os extremismos, significa quem no PSR e na UDP esteve do lado do PREC”, desvalorizou.
Na resposta, Marisa Matias apontou o facto de Nuno Melo não se ter comovido minimamente quando Jair Bolsonaro, agora Presidente do Brasil, “disse que se devia fuzilar os líderes da oposição e os seus opositores e fez o símbolo da metralhadora”.
“Como não se comove agora ao defender o Vox, que é um partido de extrema-direita”, condenou. Para Marisa Matias, os bloquistas estão “nos antípodas” daquilo que defendem os centristas.
“Como se poderia provar se o doutor Nuno Melo quisesse falar de política europeia. Não quer falar porque se associa ao pior lado da União Europeia, ao maior aumento de impostos, ao maior corte nas pensões e aos despejos”, disse, nos segundos finais do debate.
Já sem tempo, Nuno Melo voltou a exibir a fotografia dos líderes do PS, BE, PCP e PEV a assinar os acordos que, em 2015, permitiram o apoio parlamentar de todos os partidos de esquerda ao Governo minoritário socialista.
Logo a meio do debate, o eurodeputado centrista tinha utilizado esta fotografia para considerar que “o Bloco não pode ‘geringonçar’ o Governo com um acordo”.
“Neste momento não há um único corte, uma única medida de austeridade, um único problema de negociação de fundos que não tenha lá o BE juntinho ao PS”, lembrou, acusando os bloquistas de não fazerem nada com o poder que têm porque “quando a coisa é boa, é mérito do Bloco; quando a coisa é má é culpa do Costa”.
Marisa Matias, na réplica, acusou Nuno Melo de uma “deslealdade enorme”, defendendo que “não pode dizer que tudo o que são posições do Governo são responsabilidade do BE”.
Fonte: ZAP