Ricardo Robles não resistiu à polémica em torno do prédio que adquiriu em Alfama, Lisboa, e renunciou aos cargos de vereador na Câmara de Lisboa e de membro da Comissão Coordenadora da Concelhia de Lisboa do Bloco de Esquerda.
O anúncio da saída de Robles é feito por via de um comunicado publicado no site bloquista Esquerda.net, onde o político do Bloco fala de “uma opção privada, forçada por constrangimentos familiares“.
Robles diz que o caso do prédio que adquiriu em Alfama por 347 mil euros e que, depois de revitalizado, foi posto à venda por 5,7 milhões de euros, criou “um problema político real” e “um enorme constrangimento” à sua “intervenção como vereador”.
“Esta é uma decisão pessoal que tomo com o objectivo de criar as melhores condições para o prosseguimento da luta do Bloco pelo direito à cidade”, destaca ainda. Uma saída que se torna inevitável depois das críticas que surgiram ao vereador que, além do prédio em Alfama, é proprietário de outros imóveis em Lisboa.
Contra os princípios do Bloco
Um dos fundadores do BE, Luís Fazenda, reconhece que o caso vai contra os princípios do partido. “São circunstâncias que, no Bloco de Esquerda, nós condenamos e que levam à gentrificação”, afiança o membro da Comissão Política do BE em declarações divulgadas no jornal i. “Tem de se fazer uma reflexão e tirar conclusões“, conclui.
Por outro lado, a líder do Bloco, Catarina Martins, manteve a defesa do vereador, considerando que “a notícia foi mal contada” e que Robles “não ganhou nada” porque a venda não chegou a ser feita.
Catarina Martins também acusa o PSD de “hipocrisia” e de “cinismo”, depois de os sociais-democratas terem pedido a demissão de Robles, lembrando o envolvimento de elementos do partido nos casos Vistos Gold e Operação Tutti Fruti.
“Em vez de tirar consequências das investigações de que está a ser alvo”, diz Catarina Martins, o PSD resolveu “perseguir o Bloco de Esquerda”.
Mas a explicação da líder bloquista é “deprimente” para Marques Mendes, que no seu habitual espaço de comentário de domingo à noite na SIC, sustenta que Catarina Martins “tentou defender o indefensável”. “É o pior momento político de Catarina Martins”, disse ainda o Conselheiro de Estado e antigo líder do PSD, defendendo que a líder bloquista deveria ter-se “demarcado” de Robles.
Marques Mendes notava ainda que este caso “foi um desastre para a carreira” de Robles e para “a imagem do Bloco de Esquerda”. “Não está ferido de morte, mas está ferido de asa e vai comprometer a sua carreira política”, considerava o comentador social-democrata antes da demissão de Robles, notando que “diz uma coisa e faz outra”.
“Não bate a bota com a perdigota”, reparava o ex-líder do PSD, lembrando que Robles “condena a especulação e pratica a especulação”. “É um exercício de incoerência e hipocrisia”, concluiu.
Robles atrasa declaração às Finanças
Outro dado a acrescentar à polémica revela que Robles demorou quase um ano a entregar nas Finanças a declaração a comunicar a realização das obras que valorizaram o imóvel. Um indicador que aumenta o valor a pagar de IMI.
Os contribuintes têm 60 dias para comunicar estas mudanças ao Fisco, mas Robles só o fez quase um ano depois, a 12 de Fevereiro de 2018, com atesta o Correio da Manhã (CM), quando as obras de requalificação foram concluídas em Março de 2017.
O CM nota que o Fisco ainda não corrigiu o Valor Patrimonial Tributável do Imóvel, pelo que o IMI do edifício ainda não foi actualizado.
PNR lança acção de ocupação ao prédio de Robles
Entretanto, o Partido Nacional Renovador (PNR) lançou uma iniciativa para ocupar o prédio da polémica. “Vamos ocupar o prédio do Robles” é o nome do evento lançado pelo PNR, partido de extrema direita, na rede social Facebook, no âmbito do caso que envolve o vereador bloquista.
A iniciativa de ocupação do prédio está marcada para terça-feira, 31 de Julho, às 12:30 horas.
O PNR lança a iniciativa com um apelo à luta “pela justiça e pela ética nos cargos públicos”. “Não toleramos esta constante pilhagem ao erário público por parte dos ‘pulhíticos’ do sistema, aldrabões e hipócritas, que se servem dos cargos em vez de servirem”, acrescenta o PNR que fala em Robles como um “político de Extrema-Esquerda-caviar”.
O prédio do vereador foi vandalizado no sábado à tarde com a inscrição “Aqui podia morar gente”, com o símbolo do Bloco de Esquerda (BE) ao lado.
Fonte: ZAP