O vereador do Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa, Ricardo Robles, está no centro de uma polémica por ter adquirido um imóvel por 347 mil euros e por o ter colocado à venda por 5,7 milhões de euros. Negócio milionário criticado pelo facto de Robles ser um dos maiores críticos da especulação imobiliária em Lisboa.
Está em causa um prédio de três pisos, localizado na Rua do Terreiro do Trigo, uma zona nobre de Alfama, em Lisboa, que a Segurança Social colocou à venda em 2014. Juntamente com a irmã, Ricardo Robles adquiriu o imóvel por 347 mil euros, graças a dois empréstimos, da Caixa Geral de Depósitos e do Montepio, e com recurso a financiamento de familiares.
Os dois irmãos investiram 650 mil em obras de requalificação e no final de 2017, colocaram-no à venda numa imobiliária por 5,7 milhões de euros. Está em causa uma mais-valia potencial de 4,7 milhões de euros.
Um dos maiores críticos da especulação imobiliária
O negócio milionário choca com as críticas que Ricardo Robles tem deixado à especulação imobiliária em Lisboa. “Esta é uma cidade cada vez mais para ricos e menos para lisboetas”, queixava-se o vereador do Bloco para as áreas da Educação e dos Direitos Socais numa entrevista ao Diário de Notícias, em Março deste ano.
“A minha conduta como co-proprietário deste imóvel em nada diminui a legitimidade das minhas propostas para parar os despejos, construir mais habitação pública e garantir o direito à cidade”, frisa agora Ricardo Robles, numa nota publicada no Facebook.
No seu perfil no Twitter, o vereador fala da compra do imóvel com a irmã como “um negócio de família” e assegura que “absolutamente ninguém foi despejado”. “A única família que lá vivia, lá continua, agora com casa recuperada e contrato em seu nome, por 8 anos e renda de 170 euros“, nota Robles, salientando que tem “todos os direitos protegidos”.
Noutra publicação no Twitter, o vereador acrescenta que cumpriu “todas as obrigações legais, fiscais e de transparência”.
Já através da referida comunicação no Facebook, Ricardo Robles esclarece que o imóvel tinha “cinco contratos de arrendamento activos” aquando da compra, respectivamente “um escritório, uma habitação e três lojas”.
Além do já referido caso da família que continua a viver no edifício, o “escritório estava abandonado e inutilizável há vários anos e o arrendatário renunciou ao contrato mediante indemnização”, relata o vereador. Uma das lojas “estava devoluta há vários anos e foi entregue sem indemnização” e o arrendatário da outra “optou por renúncia de contrato com indemnização”.
Finalmente, no terceiro espaço comercial, que era um restaurante, “foi apresentada uma proposta de aumento de renda de 270 euros para 400 euros mensais” que foi recusada, conta Robles. O arrendatário levou o caso a tribunal, exigindo 120 mil euros de compensação “por benfeitorias realizadas”, como destaca Robles.
Foi “acordado com o inquilino, em tribunal, a sua saída em Outubro de 2016, com indemnização”, nota o vereador, acrescentando que “o processo relativo às benfeitorias realizadas e reclamadas pelo inquilino ainda corre em tribunal com vista à fixação de uma indemnização justa”.
Ricardo Robles também revela que “o prédio não foi vendido e foi retirado do mercado”, mas salienta que ele e a família mantêm “a intenção de venda a breve trecho”.
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Fonte: ZAP