Portugal está entre os países do mundo com maiores reservas de ouro, mas a venda do metal precioso não está a ser ponderada, pelo menos para já, como forma de ajudar a combater a crise económica sem precedentes que se antecipa, devido à pandemia de Covid-19.
O Eco ouviu vários especialistas sobre a possibilidade de a venda de ouro poder contribuir para amenizar os efeitos da crise económica. Esse cenário já foi especulado aquando da crise financeira de 2008, mas não foi avante.
Portugal “é um dos países com mais reservas de ouro a nível mundial”, como destaca o professor de macroeconomia da Nova SBE, Pedro Brinca, em declarações ao Eco. Há vários anos que o país detém 382,5 toneladas de ouro, “distribuídas entre Complexo do Carregado, o Banco de Inglaterra, a Reserva Federal dos EUA e o Banco de Pagamentos Internacionais”, de acordo com a mesma publicação.
Trata-se da “14.ª maior reserva de ouro”, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional). Numa altura em que o ouro tem vindo a valorizar-se, o “tesouro” português “vale mais de 20 mil milhões de euros, cerca de 10% do PIB anual“, segundo as contas do Eco.
“A reserva de ouro mantém-se estável há vários anos, não existindo intenção de realizar qualquer venda”, aponta à publicação fonte do Banco de Portugal (BdP).
“As reservas de ouro são propriedade do Banco de Portugal que é independente do Governo”, atesta Pedro Brinca, salientando que servem, basicamente, para “intervir no mercado para defender a moeda se for preciso”. Mas com a moeda única europeia, esse papel passou para o Banco Central Europeu, pelo que “o papel das reservas de ouro para o cumprimento desse objectivo deixa de fazer sentido, pelo menos directamente”, conforme realça o professor.
Todavia, Pedro Brinca trata de notar que é preciso perceber “se faz sentido ter uma medida permanente para combater um problema transitório [dado que] o ouro só se vende uma vez”. O professor de macroeconomia entende que o cenário só se deverá colocar se “estivermos a falar de uma situação de sobrevivência”.
Para já, nota que é “precoce pensar em cenários de alienação de activos sob pressão orçamental”. “Compreende-se o argumento de que a alienação das reservas de ouro faz sentido, mas mesmo nesse contexto, deve ser feita de forma planeada e concertada de forma a maximizar a receita daí proveniente e não sob pressão de realização de receita”, alerta.
De resto Pedro Brinca trata de sustentar que “a manutenção de um nível substancial de reservas [de ouro] também assegura que uma eventual saída do euro não ponha em causa a capacidade de ter uma moeda nacional com alguma estabilidade”.
Da mesma forma, o economista Ricardo Cabral salienta ao Eco que, “nesta altura de grande incerteza que colocará o sistema monetário internacional (e o dólar como moeda de reserva) sob enorme risco, é de manter as reservas de ouro de Portugal“.
Fonte: ZAP