A recuperação económica de Portugal continua a surpreender o mundo, especialmente porque o país “teve sucesso onde outros falharam” e está hoje muito melhor do que Grécia e Espanha, por exemplo, aproximando-se mais da realidade da Alemanha.
Estas conclusões são retiradas numa análise publicada no blogue do Financial Times destinado a investidores, o FT Alphaville.
Num artigo intitulado “O que se passa com Portugal?”, o jornalista Matthew C. Klein, especializado em Economia, escreve que, para o nosso país, “a experiência da crise do Euro foi um desagradável híbrido de Grécia e Itália”. Contudo, Portugal “está hoje muito melhor do que ambos” os países do Sul da Europa, constata.
“Da perspectiva da percentagem de pessoas com um emprego, Portugal está muito mais parecido com a Alemanha do que com, digamos, Espanha”, escreve ainda o jornalista.
Este “mercado de trabalho relativamente saudável” tem por base os números da taxa de população empregada, divulgados pelo Eurostat, e que são superiores a 80%.
A recuperação económica do país é uma “experiência quase única dentro da Zona Euro”, afiança também o blog do Financial Times, considerando que “não há uma única razão” que explique como é que Portugal “teve sucesso onde outros falharam”.
Vários factores contribuíram para este cenário, designadamente o turismo e as exportações.
Mas sobre o turismo, o jornalista do Financial Times refere que é um factor “anedótico”, concluindo que o aumento das visitas de estrangeiros a cidades portuguesas não teve um peso tão grande na recuperação económica como as exportações de bens.
“Às vezes, parece difícil encontrar alguém que não tenha passado, recentemente, férias em Portugal”, escreve o jornalista. Todavia, “apenas um pouco mais de um terço da melhoria total da balança comercial pode ser explicada pelo crescente apelo” das cidades portuguesas para os turistas.
“O turismo já contava para cerca de 21% das receitas de exportação em 2008”, refere o artigo. “O crescimento do turismo é impressionante, mas apenas ligeiramente mais impressionante do que o crescimento das outras exportações de Portugal”, conclui o analista do Financial Times.
As exportações da venda de bens cresceram mais de 40% no período entre 2008 e 2017, com especial relevância para as vendas da indústria automóvel. Enquanto isso, “as importações cresceram apenas um décimo”.
Deste modo, “a balança comercial líquida melhorou em cerca de 20 mil milhões de euros, ou mais de 10% do PIB de Portugal”, aponta.
Porém, o especialista do Financial Times avisa que “a recuperação portuguesa tem ainda um longo caminho pela frente”, e destaca o problema da “emigração massiva” como um dos grandes dilemas nacionais.
“Entre 2008 e 2016, cerca de 340 mil pessoas deixaram Portugal e cerca de 220 mil chegaram, uma perda líquida de cerca de 120 mil pessoas“, lê-se no artigo. E os números são ainda mais negros quando focados apenas em cidadãos portugueses – “320 mil saíram vs 120 mil que entraram” -, representando “mais de 4% do número total de pessoas que trabalhavam em Portugal em 2016”.
Trata-se de “uma grande – e, provavelmente, permanente – perda de capital humano” com claras consequências negativas para a economia portuguesa, conclui o FT.
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Fonte: ZAP