Professores de todo o país estão indignados com a censura de versos do poema “Ode Triunfal”, de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa. O verso —“Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas”, e depois umas estrofes a seguir mais dois versos — “E cujas filhas aos oito anos – e eu acho isto belo e amo-o! – / Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada”) — foram omitidos da versão original da obra.
A polémica instaurou-se porque o manual escolar faz parte dos livros aprovados pelo Ministério da Educação e foi escolhido por cerca de 90 escolas em todo o país, há muitos anos.
O livro com os versos censurados foi comprado no início deste ano letivo e trata-se da primeira edição (segunda tiragem) do “Encontros”, e está à venda e a ser usado pelos alunos. Educadores afirmam que censurar os versos de um poeta tão representativo como Fernando Pessoa é prejudicial do ponto de vista histórico e cultural. No entanto, apesar do protesto dos educadores, conservadores afirmam que a medida é válida, pois a linguagem usada por Fernando Pessoa pode não ser a mais apropriada para fins educativos.
Segundo a Porto Editora, “Encontros” é um dos livros na lista de manuais escolares que podem ser adotados pelas escolas no ano letivo 2018/2019, para a disciplina de português do 12.º ano (alunos com pelo menos 17 anos). A editora nega censura e afirma que a omissão dos versos retirados ocorreu por conter linguagem que pode ser considerada obscena, e foram substituídos por linhas a tracejado.
Não há até o momento posicionamento oficial do Ministério da Educação acerca do tema.
Fernando Pessoa e os seus heterónimos fazem parte das “Aprendizagens Essenciais” apresentadas pelo Ministério, que define que o aluno deve ter “um conhecimento e uma fruição plena dos textos literários do património português e de literaturas de língua portuguesa ”.