O ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo está a ser fortemente criticado, da esquerda à direita, pelo vídeo, partilhado esta segunda-feira, no qual aborda a saída da troika da Grécia, depois de oito anos de resgates.
Segundo o Diário de Notícias, o vídeo de Mário Centeno enquanto presidente do Eurogrupo surgiu esta segunda-feira, dia em que a Grécia concretizou a saída do seu terceiro programa de assistência, numa data histórica para o país e para a Zona Euro, que vira a página sobre oito anos de resgates.
Numa mensagem vídeo publicada no Twitter, e também no site do Conselho da União Europeia, o ministro das Finanças português começa por sublinhar que “hoje é um dia especial para a Grécia”, pois chega ao fim “um trajeto longo e sinuoso”.
“Mas isso agora é História. Hoje, o crescimento económico melhorou, estão a ser criados novos postos de trabalho, regista-se um excedente orçamental e comercial, e a economia foi reformada e modernizada”, afirma Centeno, acrescentando ter noção de que “estes benefícios ainda não são sentidos em todos os quadrantes da população”, mas garantindo que, “gradualmente, serão”.
“A Grécia reconquistou o controlo pelo qual lutou. Com controlo, vem a responsabilidade. Os gregos pagaram caro as más políticas do passado, pelo que voltar atrás seria um erro prejudicial”, sublinhou ainda o presidente do Eurogrupo.
A concluir, Centeno lembra que “a Grécia está agora numa posição na qual pode gozar plenamente a pertença à zona euro, sujeita às mesmas regras dos restantes membros da área do euro”. “A Grécia regressou hoje à normalidade. Por isso, bem-vindos de volta”.
De acordo com o DN, a primeira crítica veio de Yanis Varoufakis, o antigo ministro das Finanças grego, que comparou o discurso de Centeno partilhado na rede social à “propaganda norte-coreana”.
De seguida, foi a vez do deputado socialista João Galamba usar o Twitter para criticar as palavras do ministro das Finanças. “Um vídeo lamentável que apaga o desastre que foi o programa de ajustamento grego e branqueia todo o comportamento das instituições europeias”.
“As duas faces deste homem: passou três anos a apoucar a saída limpa portuguesa de 2014 – conseguida contra todos os esforços contrários do PS – e agora desfaz-se em palavras doces para um país que sai devorado por problemas após oito anos de bailout.
Há mínimos. Ou deveria haver…”, pode ler-se no Twitter de Miguel Morgado, do PSD.
A juntar-se às críticas está também José Gusmão, dirigente do Bloco de Esquerda, que considera a atitude de Centeno “um vídeo ridículo para quem tem alguma noção do que aconteceu na Grécia, insultuoso para os gregos e esclarecedor para os portugueses”.
“Ainda alguém tem dúvidas sobre se o Governo ganhou um representante no Eurogrupo ou vice-versa?”, questiona ainda na rede social.
Segundo o Observador, as críticas estendem-se a nível internacional. Exemplo disso é o tweet de Patricia Kowsmann, correspondente do Wall Street Journal que já trabalhou em cidades como Lisboa, Londres, Singapura e Washington.
“Tanta ironia neste vídeo. O ministro das Finanças de um Governo que criticou ferozmente a troika e denunciou a austeridade, pelo menos no papel, fala agora sobre os benefícios de tudo isso. E de como a Grécia pode inverter a sua marcha”, pode ler-se.
A Grécia, o país europeu mais atingido pela crise económica e financeira, foi o primeiro e último a pedir assistência financeira – e o único “reincidente” -, e a conclusão do seu terceiro programa assinala também o fim do ciclo de resgates a países do euro iniciado em 2010, e que abrangeu também Portugal (2011-2014), Irlanda, Espanha e Chipre.
Fonte: ZAP