A PSP abriu um inquérito para “averiguação interna” sobre a “intervenção policial” que ocorreu na manhã deste domingo no Bairro da Jamaica, no concelho do Seixal, da qual resultaram vários feridos e um detido. Moradores acusam os agentes de uso excessivo de força.
De acordo a Direção Nacional da PSP, num comunicado esta segunda-feira divulgado, “a intervenção policial [no bairro da Jamaica – Seixal] e todas as circunstâncias que a rodearam irão ser alvo de uma averiguação interna, tendo o Diretor Nacional da PSP determinado, na presente data, a instauração de um processo de inquérito que correrá os seus trâmites na Inspeção Nacional da Polícia de Segurança Pública, sem prejuízo de outras averiguações que venham a ser instauradas por outras entidades competentes”.
Em declarações à agência Lusa e antes da divulgação do comunicado, fonte da Direção Nacional da PSP, a força policial foi alertada no domingo, por volta das 07:30, para “uma desordem entre duas mulheres”, no Bairro da Jamaica tendo sido deslocada para o local uma equipa de intervenção rápida da PSP de Setúbal.
Segundo a PSP, um grupo de homens reagiu à intervenção dos agentes da polícia quando estes chegaram ao local, atirando pedras. A mesma fonte referiu que um agente foi atingido pelas pedras, na boca, tendo de receber assistência no Hospital Garcia de Orta, em Almada. Pelas 16:30, ainda de acordo com a mesma fonte, o agente já tinha tido alta e o homem suspeito de ter atirado a pedra que o atingiu tinha sido detido.
O comunicado da Direção Nacional, no qual é anunciada a abertura de um inquérito interno, foi divulgado após ter sido partilhado nas redes sociais um vídeo amador, com dois minutos, no qual é possível ver-se moradores do bairro a serem agredidos por polícias.
Na mesma nota, a PSP refere que os agentes, na sequência de terem sido atacados com pedras, “foram obrigados a solicitar o reforço de uma Equipa de Intervenção Rápida (EIR)”, que teve que “usar da força estritamente necessária para por cobro às agressões” de que estava a ser alvo, “para repor a ordem pública e, ao mesmo tempo, para consumar a detenção do suspeito de agressão ao polícia”. Ainda de acordo com a PSP, “na sequência desta intervenção há a assinalar ferimentos em dois polícias e num civil”.
“Quando chegaram eles [os agentes] nem perguntaram o que se passava. Vieram para bater”, disse Vanusa Coxi, moradora do bairro cujo marido, cunhados e sogra tiveram de receber assistência hospitalar após a intervenção policial, em declarações ao Público.
De acordo com Vanusa, os agentes não saíram do carro assim que chegaram: “Ficaram a olhar. Só saíram quando a discussão cá fora acendeu outra vez, quando elas [as mulheres] começaram novamente a lutar”, assegurando que ninguém tentou perceber o que se passava. “A polícia entrou a abrir. Vinha para bater”, notou ao matutino.
Segundo os Bombeiros Mistos do Seixal, em declarações à Lusa, foram transportados para o Hospital Garcia de Orta seis feridos ligeiros – cinco civis e um agente da PSP.
SOS Racismo apresenta queixa ao MP
Na sequência dos confrontos, a associação SOS Racismo vai avançar com uma queixa junto do Ministério Público (MP). Em comunicado enviado às redações, a associação sublinha que as agressões “são absolutamente injustificáveis e inaceitáveis” e, por isso, o caso deve ser esclarecido e as responsabilidades apuradas.
“O SOS Racismo, tendo-se deslocado ao bairro e ouvido os testemunhos das próprias vítimas e dos cidadãos que presenciaram a intervenção da polícia, só pode condenar veementemente a atuação da PSP e exigir naturalmente o apuramento das responsabilidades”, refere em comunicado a associação.
A SOS Racismo reafirma que “independentemente das circunstâncias e dos contornos em que aconteceu o caso, não se poderão repetir os habituais procedimentos que consistem, de forma expedita, em procurar ilibar os agentes e incriminar as vítimas, com recurso à figura do julgamento sumário”.
O Bairro da Jamaica
O Jamaica, nome pelo qual é mais conhecido o Vale de Chícharos, é um bairro de habitação precária situado na freguesia do Fogueteiro, no concelho do Seixal.
O bairro começou a formar-se na década de 1990, quando populações que vinham dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) começaram a fixar-se em prédios e torres inacabados, fazendo puxadas ilegais de luz, água e gás.
Em dezembro do ano passado, a Câmara Municipal do Seixal deu início ao processo de realojamento dos habitantes do bairro. Na primeira fase, 187 pessoas foram distribuídas por 64 habitações dispersas pelas várias freguesias do Seixal.
Atualmente os terrenos pertencem à empresa Urbangol e, apesar de ainda não estar definido que projetos lá poderão nascer, o município mantém a esperança de que se possa tornar num parque ou um jardim.
Fonte: ZAP