Apesar de o estudo que complementa a ideia ainda não ter sido tornado público, a startup que injeta “sangue novo” vai abrir a primeira clínica. As transfusões são usadas para lutar contra o envelhecimento.
Jesse Karmazin, graduado em medicina por Stanford mas sem licença para a praticar, é o fundador da “Ambrosia Medical” – uma startup que promete injetar sangue de dadores jovens em pessoas mais velhas, na esperança de que o procedimento ajude a rejuvenescer os órgãos do corpo.
Ao Business Insider, Karmazin contou que espera abrir a primeira clínica em Nova York ainda no final deste ano.
Em 2017, a Ambrosia inscreveu as primeiras pessoas no primeiro ensaio clínico dos EUA destinado a descobrir o que acontece quando pessoas mais velhas recebem transfusões de sangue de jovens.
Apesar de a conclusão do ensaio ainda não ter sido tornada pública, Karmazin afirmou que os resultados são “realmente positivos“.
“O ensaio foi um estudo de investigação. Vimos algumas coisas interessantes e planeamos publicar esses dados. Queremos começar a abrir clínicas onde o tratamento será disponibilizado”, disse David Cavalier, Diretor de Operações da Ambrosia..
Nos Estados Unidos, as transfusões de sangue já foram aprovadas pela Food and Drug Administration e, por isso, a Ambrosia tem luz verde para continuar a providenciar um tratamento que não necessita de prescrição médica.
Apesar de ser uma ideia incomum, parece haver um significativo interesse neste tratamento por parte das pessoas: desde a semana passada quando o site da Ambrosia ficou on-line, a empresa recebeu cerca de 100 consultas para esclarecer potenciais pacientes sobre como receber o tratamento, contou ao Business Insider, David Cavalier.
Segundo Cavalier, o interesse demonstrado pelas pessoas nos tratamentos levou ainda à criação de uma lista de espera.
“Foram tantas as pessoas que procuraram por nós que quisemos simplificar a inclusão delas na lista”, explicou Cavalier.
Com as expetativas altas em relação ao futuro da Ambrosia, Karmazin e Cavalier encontram-se ativamente à procura de investidores e de um local para estabelecer a sua primeira clínica, esperando abrir portas ainda em 2018. “Nova York seria o local ideal”, revelou Karmazin.
A primeira clínica do género
Como as transfusões de sangue já foram aprovadas pela regulação federal, a Ambrosia não necessita de demonstrar que os tratamentos que oferece trazem, de facto, algum benefício aos clientes.
Até ao momento, a empresa já “tratou” perto de 150 pacientes, entre os 32 e os 92 anos.
No ensaio clínico, os pacientes recebiam 1,5 litros de plasma de um dador saudável entre os 16 e os 25 anos e todo o processo foi conduzido pelo médico David Wright, que possui um centro privado de terapia intravenosa.
Antes e depois das transfusões, o sangue dos participantes era testado através de biomarcadores que fornecem instantaneamente informações sobre a saúde.
Para o ensaio clínico, cada voluntário teve de desembolsar 8 mil dólares para participar. Segundo Karmazin, a Ambrosia ainda não estabeleceu um preço base para o procedimento.
Há mesmo benefícios?
Em todo o processo há, pelo menos, um facto que é indesmentível: as transfusões de sangue são seguras e capazes de salvar vidas.
Transferir sangue e plasma de alguém saudável para uma pessoa que passou por uma cirurgia ou esteve envolvida num acidente, é um dos procedimentos hospitalares mais seguros e mais comuns.
Todos os anos, nos Estados Unidos, são realizadas cerca de 14,6 milhões de transfusões – algo como 40 mil transfusões por dia.
Contudo, aquilo que a Ambrosia se propõe fazer e o seu suposto potencial para combater o envelhecimento é ainda uma incógnita para a ciência.
“Não há evidências clínicas e estão a abusar da confiança das pessoas e do entusiasmo público criado”, disse à revista Science, Toy Wyss-Coray, neuro-cientista da Universidade de Stanford que conduziu, em 2014, um estudo sobre plasma jovem em ratos.
Apesar de os estudos existentes contrariarem as intenções da Ambrosia, Karmazin mantém-se optimista e conta que teve a ideias das transformações durante a sua formação em medicina, onde assistiu a dezenas de transfusões de sangue.
“Alguns pacientes receberam sangue jovem e outros tiveram sangue mais velho e eu consegui fazer algumas estatísticas e os resultado que obtive foram realmente impressionantes”, revelou Karmazin. “Pensei que seria o tipo de terapia que eu gostaria que estivesse disponível para mim”.
Até ao momento, ninguém sabe se as transfusões de sangue de jovens podem realmente estar ligadas a qualquer benefício de saúde nas pessoas.
Karmazin explicou ainda que muitas das 150 pessoas que receberam o tratamento notaram melhorias na concentração, memória, sono, aparência e no tónus muscular.
Mas enquanto o estudo não se tornar público, as dúvidas não eram desaparecer.