As taxas alcançadas em testes de QI estão a diminuir há décadas, mas a genética não é a única culpada. Segundo um estudo recente, os verdadeiros culpados são o ambiente e a sociedade.
Segundo um estudo recente, publicado na Translational Psychiatry, o ambiente pode modificar a expressão de um gene-chave no cérebro, afetando assim a inteligência humana.
Esta descoberta recente pode não ser uma surpresa se tivermos em conta que são vários os genes que influenciam o nosso QI. Além disso, experiências stressantes podem bloquear e libertar genes no nosso cérebro. Ainda assim, ter provas concretas desta ligação irá, certamente, lançar o debate sobre o que significa ser “inteligente”.
Uma equipa de cientistas analisou as características de vários genes entre um grupo de adolescentes saudáveis e compararam os resultados com as pontuações de QI e vários traços neurológicos.
Desta forma, os cientistas descobriram uma forte relação entre as modificações epigenéticas de um gene em particular e o QI geral, sugerindo que as nossas experiências influenciam num nível básico. A epigenética tornou-se uma grande novidade nos últimos anos, dado que permite explorar a ligação entre as funções genéticas e as mudanças ambientais.
Em momentos de stress elevado, como uma ameaça persistente de violência, por exemplo, ocorrem mudanças fisiológicas no nosso organismo que podem ajustar os genes adicionando ou removendo um grupo químico. Por sua vez, estas mudanças podem influenciar uma série de características que podem ter efeitos colaterais drásticos, alterando o curso de tudo.
Desta forma, a equipa descobriu que, quando um gene chamado DRD2 tinha um bloqueio epigenético, as taxas de QI diminuíam.
O gene é geralmente responsável por construir parte de um recetor para o neurotransmissor dopamina. Herdar uma versão mutante pode ser uma má notícia, levando a vários distúrbios neurológicos e musculares. Mas, se modificada em pontos isolados do cérebro, como o estriado, pode ter efeitos menos profundos.
Os cientistas descobriram ainda que o tecido nessa área do cérebro de indivíduos com DRD2 modificado não era tão denso quanto nas pessoas sem esse ajuste epigenético. No entanto, apesar de as mudanças estarem presentes, é impossível afirmar com certeza o que as causou – isto é, o quanto se deve às mudanças neurológicas e o quanto se deve às mudanças epigenéticas.
A equipa refere que é um exagero dizer que qualquer mudança epigenética única nos leva a uma vida de riqueza, doença ou – neste caso – superioridade intelectual, mas a verdade é que pode ter influência.
Ao contrário de outras influências ambientais, as mudanças epigenéticas nos tecidos direitos podem, hipoteticamente, ser transmitidas para gerações futuras.
“A atividade genética induzida pelo ambiente junta-se agora às fileiras de outros fatores conhecidos por influenciar o desempenho do teste de QI, como a pobreza e a constituição genética”, diz o primeiro autor do estudo, Jakob Kaminski.
“Neste estudo, pudemos observar de que forma as diferenças individuais nos resultados dos testes de QI estão ligadas a mudanças epigenéticas e diferenças na atividade cerebral que estão sob influências ambientais”, conclui o investigador.