Ao contrário do que se possa pensar, o petróleo não é, afinal, o ouro negro. Este encontra-se nas impressoras, podendo a tinta de alguns cartuchos custar, por litro, oito mil vezes mais do que aquela matéria-prima.
Os preços dos tinteiros utilizados neste artigo foram consultados, a 4 de janeiro, na loja online da Staples. No mesmo dia, o preço do Barril de Petróleo de Brent rondava os 51 euros – cada litro por 0,32 cêntimos.
De forma a chegar a essa conclusão, o ZAP comparou os preços, por litro, das tintas (preta, amarela, ciano e magenta) utilizadas em alguns cartuchos das marcas HP e Epson, com o custo, também por litro, do petróleo (tomando o Barril de Petróleo como tendo 159 litros).
Analisando os dados obtidos, observa-se que o tinteiro HP 903 Preto, com 8 mililitros de tinta preta e capacidade para 300 impressões, custa 19,99 euros. Sendo assim, um litro desse produto ficaria por 2499 euros.
Comparando os preços de um litro da tinta do referido tinteiro e de um litro de petróleo (0,32 cêntimos), constata-se que o primeiro seria cerca de 7800 vezes mais caro.
Esse valor é ainda maior com as cores amarelo, ciano e magenta. Um cartucho com 4 mililitros de tinta e um rendimento de 300 impressões, vale 12,99 euros. Um litro custaria, então, em torno de 3247 euros. Assim sendo, um litro de tinta de uma dessas cores seria, aproximadamente, 10 mil vezes mais caro que um litro de petróleo.
Tinteiros | Capacidade | Preço | /litro |
HP 903 Preto, 300 impressões | 8 ml | 19,99 € | 2499 € |
HP 903 Amarelo, 315 impressões | 4 ml | 12,99 € | 3248 € |
HP 903 Ciano, 315 impressões | 4 ml | 12,99 € | 3248 € |
HP 903 Magenta, 315 impressões | 4 ml | 12,99 € | 3248 € |
Epson Margarida 18 Preto, 175 impressões | 5,2 ml | 11,99 € | 2306 € |
Epson Margarida 18 Amarelo, 180 impressões | 3,3 ml | 9,99 € | 3027 € |
Epson Margarida 18 Ciano, 180 impressões | 3,3 ml | 9,99 € | 3027 € |
Epson Margarida 18 Magenta, 180 impressões | 3,3 ml | 9,99 € | 3027 € |
Uma relação parecida pode ser encontrada caso se analisem os tinteiros da marca Epson, com os preços não muito distantes dos praticados pela HP.
Os elevados preços cobrados pelos cartuchos de tinta foi também analisado, em março de 2018, por Austin McConnell, num vídeo em que o próprio relata como descobriu o custo real desse produto, durante a sua experiência como técnico de assistência remota para uma empresa de computadores.
Como se pode ver no vídeo, Austin McConnell descobriu que a empresa em questão vendia tinteiros de quatro cores (preto, amarelo, ciano e magenta) pelo valor de 59,95 dólares (cerca de 53 euros), no entanto, o custo de produção desses mesmos tinteiros era de 00,23 dólares (cerca de 20 cêntimos).
Segundo explicou, as empresas de produção de tinteiros, que, na maior parte dos casos, são as mesmas que produzem as impressoras, justificam o valor dos cartuchos com os gastos que têm no desenvolvimento de tecnologia.
Na realidade, o que acontece é que “a maior parte das impressoras é vendida com prejuízo, sendo o mesmo recuperado com a venda de tinteiros”, afirma o criador do vídeo.
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Entre outras considerações, Austin McConnell explica igualmente como as empresas incorporam chips nos cartuchos que produzem para levar “o cliente gastar mais”. Por vezes, o chip pode informar que determinada cor está a acabar ou a funcionar mal, fazendo com a impressora deixe de funcionar e só o volte a fazer quando o cartucho é substituído, mesmo que as outras cores ainda tenham níveis elevados.
No entanto, sublinha, caso se abra o cartucho, é possível verificar que, muitas vezes, ainda existe tinta no interior do cartucho, conta o próprio.
Além disso, “os chips detetam quando o consumidor tenta recarregar os tinteiros e respondem, fazendo com que a impressora deixe de funcionar”, esclarece ainda.
Uma notícia do Pplware, divulgada a 15 de setembro de 2018, indica que a HP voltou a bloquear o uso de tinteiros não oficiais nas suas impressoras, depois de, há cerca de um ano, ter voltado atrás nessa decisão.
“Os tinteiros são uma da partes mais caras que temos na utilização de um computador. Esta condição leva a que muitas vezes tenhamos de recorrer a tinteiros não oficiais ou que sejam recarregados”, lê-se no artigo, que acrescenta: “a HP tem parte do seu modelo de negócio assente na venda destes consumíveis e tenta, por tudo, que sejam usados nas suas impressoras”.
Em outubro, a mesma fonte referiu que essa medida foi também seguida pela Epson.
Tinta das impressoras mais “preciosa” que a prata
De acordo com um artigo da BBC, divulgado em junho de 2018, a tinta para as impressoras custa mais do que a prata, um metal precioso utilizado em diferentes objetos, como jóias e dispositivos médicos e eletrónicos.
A pesquisa mostra que os cartuchos, com 4 mililitros de tinta (o suficiente para imprimir cerca de 200 páginas), podem custar entre 8 e 27 dólares (entre 7 a 24 euros), dependendo da impressora.
Tendo em consideração o valor mais baixo (8 dólares), constata-se que um litro desse produto, custa, então, 2000 dólares (aproximadamente 1760 euros). Em Portugal, como demonstram os dados referidos acima, um cartucho da EPSON, modelo Margarida 18 Preto, custa 11,99 euros. Um litro desse produto, podia chegar aos 2306 euros.
Segundo o artigo, em comparação, a prata custava, à data do artigo, 538 dólares por quilo. A nível nacional, um quilo desse material precioso custa, atualmente, por 422 euros (dados da Proteste Investe). Ora, fazendo as contas, conclui-se que a tinta das impressoras custa quatro vezes mais que a prata.
Embora as impressoras possam ser adquiridas a preços acessíveis, é “a tinta que tem o valor real para os fabricantes“. Tal como referido por Austin McConnell no vídeo, o artigo da BBC sugere que as empresas justificam o elevado valor cobrado pelos tinteiros como um meio para financiar o desenvolvimento de novas tecnologias, que permitam melhorar a ‘performance’ dos cartuchos.
Contudo, esclarece o mesmo artigo, caso se abra uma dessas embalagens de tinta, é possível verificar que a maior parte do espaço interno do recipiente é ocupado por uma esponja, projetada para ajudar a preservar a tinta e encaminhá-la para a impressora.
Apesar do preço elevado, a tinta dos cartuchos para as impressoras não é o único produto de utilização diária que vale mais do que a prata.
O sangue humano, os grãos de baunilha provenientes da espécie Orquídea Vanilla, o açafrão (considerado o tempero mais caro do mundo), bem como o café “Kopi Luwak” (produzido com fezes de uma espécie de gatos asiáticos), são outros dos artigos mais caros que o metal precioso.
Da mesma lista, liderada pelos anti-venenos de escorpião e de cobra-real, constam ainda o Viagra, alguns medicamentos para tratar doenças genéticas raras, o Zovirax (creme usado para combater o vírus que causa herpes labial) e certos produtos de cosmética.
Taísa Pagno, ZAP //
Fonte: ZAP