O antigo director do Expresso, Henrique Monteiro, revela que o gabinete de José Sócrates, quando este era primeiro-ministro, entregou ao semanário cópias de emails internos do Público, para “se vingar” do jornal diário pela investigação que fez ao caso da sua licenciatura.
Esta revelação foi feita por Henrique Monteiro durante um debate na SIC Notícias, dá conta o Público.
O ex-director do Expresso refere que “pessoal ligado ao Sócrates”, através do “gabinete do primeiro-ministro”, entregou ao semanário cópias de correspondência interna do Público.
“Nós, na direcção do Expresso olhámos para os emails, que já tinham um ano, e dissemos ‘nós temos de dizer de onde é que isto aparece, porque não foi enviado por nós e é uma violação de correspondência interna‘”, conta Henrique Monteiro.
Para o ex-director do Expresso, “era obviamente uma tentativa de queimar o Público” e, em especial, os jornalistas envolvidos na troca de emails.
Esses emails referem-se ao chamado “Caso das Escutas” que foi divulgado pelo Público, dando conta de que a Presidência da República suspeitava de que estava sob vigilância do Governo de Sócrates.
E se o Expresso se recusou a divulgar o teor desses emails, o Diário de Notícias publicou a informação que neles constava no dia seguinte, a 18 de Setembro de 2009, como relata Henrique Monteiro.
Em causa está uma notícia de primeira página que saiu na capa do DN que indicava que Fernando Lima, então assessor do ex-Presidente da República Cavaco Silva, era a fonte das notícias divulgadas pelo Público, sobre o “Caso das Escutas”.
A acompanhar essa notícia, o DN divulgou um email de um jornalista do Público que seria a prova de que esse “Caso das Escutas” era uma mera “farsa montada pela Presidência”, cita o diário.
O DN acabou por ser condenado pela Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas por “infracção grave” e “dolo intenso”, pela violação de correspondência dos profissionais do Público.
O então director do Público, José Manuel Fernandes, que também participou no debate na SIC Notícias, diz que “ainda hoje” não sabe como é que os emails dos jornalistas saíram do jornal.
Em 2017, o presidente da Sonae, Paulo Azevedo, contou aos investigadores da Operação Marquês, quando prestou declarações como testemunha, que Sócrates lhe propôs que o Grupo Lena, do amigo Carlos Santos Silva, comprasse o Público, tendo Armando Vara como intermediário no processo.
Os investigadores da Operação Marquês também concluíram que Sócrates terá tentado interferir na gestão da empresa dona do Diário de Notícias, do Jornal de Notícias e da TSF, para que contratasse jornalistas da sua “confiança” para “lugares-chave”.
Fonte: ZAP