Num túmulo com quase cinco mil anos, na Suécia, investigadores descobriram a estirpe mais antiga da famosa bactéria Yersinia pestis – o micróbio responsável pelo contágio de uma das doenças mais temidas da humanidade: a peste.
A descoberta sugere que o germe pode ter afetado pessoas em toda a Europa no final da Idade da Pedra, no que pode ter sido a primeira grande epidemia da história humana. Também poderia reescrever algumas coisas que se conhece da história europeia antiga.
A bactéria foi encontrada quando os investigadores estavam a analisar bancos de dados de ADN antigo para casos nos quais as infeções poderiam ter matado vítimas pré-históricas, de acordo com o estudo publicado a 6 de dezembro na revista Cell.
Uma análise anterior de um túmulo de calcário em Frälsegården, na Suécia, revelou que cerca de 78 pessoas foram lá enterradas e todas morreram num período de 200 anos. O facto de que muitas pessoas ter morrido num período de tempo relativamente curto num mesmo lugar sugeriu que poderiam ter morrido por causa de uma epidemia, disse o autor do estudo, Nicolás Rascovan, biólogo da Universidade Aix-Marseille, em França.
O túmulo de pedra calcária era datada do Neolítico, ou Nova Idade da Pedra, o período em que a agricultura começou.
Os investigadores descobriram a estirpe de peste anteriormente desconhecida nos restos mortais de uma mulher. A datação por carbono sugere que morreu há cerca de 4.900 anos durante um período conhecido como o declínio neolítico, quando as culturas neolíticas em toda a Europa diminuíram misteriosamente.
Com base nos ossos do quadril e outras características do esqueleto, estimaram que a mulher tinha cerca de 20 anos quando morreu. A estirpe da peste encontrada tinha uma mutação genética que pode desencadear a peste pneumónica – a forma mais letal de peste histórica e moderna – sugerindo que a mulher provavelmente morreu dessa doença.
Ao comparar a nova estirpe com ADN de peste conhecida, os cientistas determinaram que a amostra antiga era o parente conhecido mais próximo da mais recente da bactéria da peste.
Karl-Göran Sjögren, um arqueólogo da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, disse que a descoberta da peste “numa área relativamente marginal do mundo neolítico sugere redes de contacto bem estabelecidas e de longo alcance” num tempo que permitiu que a doença se espalhasse.
De facto, é possível que as inovações revolucionárias da época possam ter preparado o cenário para o surgimento e disseminação de doenças infeciosas“, o que poderá ter levado à primeira grande epidemia da História humana.
Os arqueólogos sublinharam que as descobertas não significam que a peste exterminou os humanos do Neolítico, mas pode ter influenciado o declínio neolítico.