Após anos de um quase esquecimento, em termos de desenvolvimento imobiliário, a Comporta está a atrair investidores internacionais que encaram a pequena vila de Setúbal como uma “nova Ibiza”. Um cenário que está a preocupar organizações ambientais.
A comparação é feita pelo The Wall Street Journal (WSJ) que destaca que há diversos empreendedores imobiliários internacionais de olho na Comporta, considerando que a região tem potencial para ser uma “nova Ibiza”.
O jornal norte-americano lembra que a Comporta sofreu várias décadas sem qualquer desenvolvimento, destacando que esse cenário está a mudar com o interesse de empreendedores internacionais em investir em projectos residenciais e turísticos.
O WSJ lembra que o grande segredo da Comporta para atrair a “realeza de férias”, com “políticos e celebridades” como os designers Christian Louboutin e Philippe Starck, está na grande beleza natural quase selvagem e na tranquilidade que diverge com a “loucura” das multidões de turistas que todos os anos rumam a Ibiza.
O The Guardian já tinha falado da Comporta como uma “versão melhorada de Ibiza”, apresentando-a como uma opção “mais tranquila, mais barata” e “mais bonita”.
Esse potencial turístico está a despoletar diversos projectos imobiliários milionários na região que tem uma localização privilegiada, a poucos quilómetros de Lisboa, próxima dos acessos rodoviários ao Algarve e com vista para o Estuário do Sado e para o Atlântico.
O Financial Times tinha também falado da Comporta como as Hamptons de Portugal, fazendo a comparação com a famosa zona de moradias luxuosas de férias situada na costa de Nova Iorque.
Durante vários anos, a Comporta resistiu como reduto da família Espírito Santo, escapando a grandes empreendimentos imobiliários. Mas depois do colapso do BES e do Grupo Espírito Santo em 2014, os terrenos da Comporta foram vendidos ao consórcio constituído pelo milionário francês Claude Berda e por Paula Amorim, a filha do falecido empresário português Américo Amorim.
Os 158 milhões de euros gastos na compra dos terrenos é apenas uma migalha do que o consórcio pretende gastar na Comporta, no âmbito de um mega-projecto imobiliário que se prevê implementar ao longo dos próximos 10 a 15 anos.
O plano de investimento ultrapassa os mil milhões de euros e prevê a construção de várias infraestruturas, como estações de tratamentos de água, arruamentos, moradias turísticas, uma unidade hoteleira, um centro de bem-estar e beleza, academias desportivas com espaços para golfe e ténis, áreas de comércio e de restauração, um museu e até uma igreja.
Mas há outros projectos imobiliários previstos para a zona e organizações ambientais começam a ficar muito preocupadas com um eventual investimento em massa, temendo que possa afectar as condições naturais da Comporta e a conservação da biodiversidade.
Organizações como a Zero, a Quercus, a Associação Comporta Utopia e a Liga para a Protecção da Natureza já manifestaram essa preocupação ao ministro do Ambiente, receando que os projectos imobiliários ponham em causa uma ampla área agro-florestal que integra a Rede Natura 2000.
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Fonte: ZAP