Embora a discrepância entre os salários e a inflação ainda não seja motivo de preocupação, as poupanças das famílias portuguesas podem ser afetadas em 2018. Isto porque, se por um lado o turismo anima a economia, por outro provoca subidas de preços que os salários portugueses não conseguem acompanhar.
Segundos os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), embora a inflação ainda esteja longe da meta de 2% definida pelo BCE, a recuperação económica está a provocar aumento de preços que se fazem sentir na carteira dos portugueses.
No ano passado, a inflação ficou em 1,4%, tendo sido a primeira vez em cinco anos que a barreira simbólica de 1% foi ultrapassada. Uma parte da pressão deveu-se ao fenómeno do turismo.
De acordo com o Jornal Económico, a subida mais acentuada de preços verificou-se nos serviços de alojamento, com um encarecimento anual de quase 12%, enquanto que os pacotes de férias ficaram 8% mais caros.
Há, ainda, outros tipos de aumentos que, embora não estejam intrinsecamente relacionados com o turismo, afetam as famílias portuguesas, como é o caso dos sumos (11%) e os combustíveis (9%). Por contraste, houve produtos que baixaram de preço, como o vestuário e muitos aparelhos eletrónicos.
Para 2018 “prevemos uma inflação média de 1,7%, um pouco acima do consenso e das previsões do Banco de Portugal e do registado no ano passado”, adianta ao mesmo jornal Filipe Garcia, economista da Informação de Mercados Financeiros (IMF). Esta previsão tem como base o crescimento económico de Portugal.
No entanto, salienta o jornal, este aumento de preços coincide com o primeiro ano em que as famílias portuguesas não vão beneficiar de um aumento generalizado do rendimento disponível por via fiscal.
Em 2017, a sobretaxa de IRS foi eliminada para todos os contribuintes e, este ano, apesar de as mudanças levarem a uma maior progressividade e redução da carga fiscal, esse efeito não vai sentir-se de forma imediata, só nos reembolsos de 2019.
No que diz respeito aos juros dos empréstimos, “em 2017, muitas famílias beneficiaram de um aumento ligeiro do rendimento disponível” devido à descida das taxas de juro do crédito à habitação, “o que não deverá repetir-se este ano”, explica Filipe Garcia.
Os funcionários públicos não irão beneficiar de uma reposição de salários este ano, à semelhança do que aconteceu no primeiro ano de mandato do Governo e, no setor privado, os novos postos de trabalho estão a ser criados com remunerações mais baixas.
Isto significa que as famílias vão perder poder de compra, devido a uma subida da inflação acima dos salários? Eduardo Silva, gestor da XTB, desvaloriza esse cenário. “O fator cambial pode atenuar esse impacto, que seria sempre mínimo”, diz o economista, lembrando que “na fase expansionista da política monetária o poder de compra real é sempre beneficiado”, por via da redução das taxas de juro.
Seria mais penalizador caso houvesse incrementos quer de salários quer da inflação, já que levaria a uma subida dos juros do BCE. “Os valores atuais de inflação relativamente ao crescimento de salários não representam uma discrepância que deva ser considerada um fator de preocupação”, frisa.
Ainda assim, as famílias devem adaptar-se a esta “nova economia”, que tem um peso crescente estrangeiro, tanto pelos turistas como pela chegada de imigrantes. “Este fenómeno, a par do turismo, poderá levar a uma subida mais sustentada nos preços ao consumo, nomeadamente no comércio e serviços, bem como na habitação”, diz Filipe Garcia.
Por um lado, é normal que haja um mercado de bens e serviços mais direcionados para o turismo, que acabe por afetar a carteira dos portugueses. Por outro lado, também a inflação tem efeitos em quem tem poupanças nos bancos.
O dinheiro aplicado em depósitos vai ter mais um ano de perda real porque as taxas de juro continuarão abaixo da inflação. “Os aforradores terão de investir noutros produtos além dos depósitos se pretenderem não ter uma perda real dos valores das poupanças em 2018”, alerta Filipe Garcia ao jornal.