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Earthscrapper na Cidade do México, projeto da Bunkerarquitectura
Com o aumento dos desastres naturais, algumas das maiores cidades do mundo podem precisar de se deslocar para o subsolo. Com o aumento das temperaturas a nível global e a sobrelotação dos centros urbanos, é necessário preservar sociedades habitáveis, por isso há quem defenda a construção de “Earthscrapers”.
A cidade de Tóquio conta com uma população de 38 milhões de habitantes e é a área metropolitana com mais população do mundo. A cidade teve um crescimento vertical e é conhecida pelos seus arranha-céus.
Em apenas alguns anos, por seu turno, a Cidade do México será a cidade com mais população da América do Norte. Com 22 milhões de pessoas, é uma das populações de crescimento mais rápido do mundo, e está a ficar sem terreno para se expandir, pois ao contrário do que acontece na capital japonesa, não optou por crescer em altura.
As leis urbanas locais não permitem que se construam prédios com mais de cinco andares no centro da cidade, a infraestrutura de transporte está envelhecida, e as montanhas ao redor inibem as conexões com cidades-satélites. Estes fatores criam a combinação perfeita para a concentração urbana em massa.
Nestas circunstâncias, e com a expectativa de uma aumento de mais 10 milhões de pessoas ainda neste século, levanta-se uma questão bastante pertinente: para onde irá toda a população? Para debaixo do subsolo. Esta é uma solução, e se assim for a Cidade do México não estará só. Em todo o mundo, cidades inteiras podem deslocar-se para o subsolo, e já há um exemplo disso.
Em Coober Pedy, na Austrália, as temperaturas estão tão altas que as pessoas que se mudaram para lá há 100 anos, perceberam que precisavam construir a sua cidade sob a superfície da Terra, onde é mais frio. Agora, cerca de 2000 pessoas vivem lá.
De acordo com um estudo realizado por investigadores da Purdue University e da University of New South Wales na Austrália, caso a temperatura aumente muito mais, será muito difícil sobreviver em regiões como a costa leste dos Estados Unidos, a Índia, e a maioria das áreas da Austrália, e regiões muito povoadas da China.
Com o calor e a concentração populacional a serem problemas cada vez mais iminentes, uma solução seria a população das áreas mais afetadas mudar-se para regiões mais frias. Porém, esta situação não seria viável, pois resultaria num congestionamento dessas regiões. A solução pode mesmo passar por viver no subsolo, diz o OneZero.
Para além de Coober Pedy, em todo o mundo já existem grandes desenvolvimentos subterrâneos em andamento.
Em Fukuoka, no Japão, arquitetos da Taisei Corporation têm planos para “Alice Cities” – espaços subterrâneos arejados e conectados por transportes e estradas subterrâneas. Em Helsínquia, na Finlândia, existe uma “cidade sombra” com piscina pública, áreas comerciais, uma igreja, campo de hóquei e um centro industrial.
Na China, antigos bunkers de guerra foram ocupados em Pequim. Também em Singapura, há planos para uma “cidade da ciência” subterrânea, onde mais de 4000 pessoas poderão viver.
Toronto, no Canadá, já tem um sistema PATH: passeios pedestres que se estendem por cerca de 20 milhas (cerca de 32 quilómetros), e se ligam a centros de transporte, a restaurantes, lojas e outros pontos comerciais. Ainda na América, a cidade de Nova York está a considerar um parque Lowline, que foi anunciado como o primeiro parque subterrâneo do mundo.
Em 2019, Tóquio, Nova Deli, Xangai, São Paulo, e Cidade do México, ficaram conhecidas como as cidades com mais população no mundo. No final deste século, a cidade mais populosa do mundo terá quase três vezes mais pessoas a morar nos seus limites metropolitanos do que Tóquio tem atualmente.
Kinshasa, na República Democrática do Congo, será a segunda cidade mais populosa do planeta, com 83 milhões de habitantes, um grande aumento em relação aos 11 milhões de pessoas que vivem lá hoje. Dar es Salaam, na Tanzânia, irá assistir a um aumento ainda mais dramático: 74 milhões de pessoas, em contraste com os atuais 4,5 milhões de residentes. No caso de Mumbai, a cidade terá 67 milhões de habitantes, três vezes mais do que os que vivem lá hoje.
Na tentativa de começar a elaborar respostas a este probelma, o arquiteto mexicano Esteban Suárez projetou o “Earthscraper”, um edifício inverso a um arranha-céus, que mergulharia cerca de 300 metros abaixo da superfície. “Seria muito interessante, em vez de subir um arranha-céu, fazer exatamente o contrário”, disse Suárez.
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O “Earthscraper” tornou-se numa sensação global. Foi finalista no concurso anual de arranha-céus da revista eVolo em 2010. Atualmente existe o Garden Santa Fe, na Cidade do México, um shopping subterrâneo de sete andares.
A construção subterrânea não é fácil, por isso não é feita com muita frequência. Ao todo, a construção pode ser até cinco vezes mais cara do que a construção tradicional à superfície. Mas Suárez garante que “precisamos de nos verticalizar nesta cidade, porque a expansão urbana não pode continuar a crescer desta forma”.
O objetivo de Suárez é incorporar a natureza em ambientes urbanos inesperados. O “Earthscraper” é uma pirâmide invertida, pois o seu projeto possui um teto de vidro que ocupa quase toda a área do solo e permite que a luz natural penetre por toda a estrutura.
As diferentes camadas do “Earthscraper” são dedicadas a espaços comerciais e residenciais. O transporte público também passaria pela estrutura. Feito de vidro reforçado e aço, o Earthscraper é arquitetónico, moderno, luminoso e acolhedor. Caraterísticas que o tornam mais apelativo ao ser humano.
Um problema que surge com esta ideia de viver no subsolo é que, de acordo com estudos, 7% da população mundial é claustrofóbica, e viver no subsolo pode transformar-se num verdadeiro pesadelo. A perceção da falta de ar, luz e saídas provoca stresse e ansiedade na maioria das pessoas. É por isso que Suaréz projetou o Earthscraper, que captura o máximo de luz natural possível.
Também a China mostra preocupações com o futuro e já começou a lançar alguns projetos. O South China Morning Post relatou em junho de 2017 que o presidente Xi Jinping tinha planos ambiciosos para desenvolver “um novo mundo subterrâneo”. O jornal disse que os geólogos têm examinado diferentes terrenos subterrâneos no norte da China para uso comercial.
Já há muitas pessoas que optam por viver no subsolo em Pequim, apesar da dimensão da China. A maioria destes habitantes são trabalhadores imigrantes, pois o deslocamento na cidade é caro, e viver no subsolo perto do trabalho, é mais barato e mais eficiente.
Enquanto isso, para muitos a ideia de viver no subsolo não é uma novidade. Já existe uma tendência entre os ricos do mundo de ter bunkers. São residências projetadas para resistir ao pior dos desastres naturais, e estão abastecidos com alimentos que podem durar meses ou até anos, equipados com os mais modernos aparelhos, alguns com piscinas e salas de cinema.
Será este o futuro?