Jamais esqueceremos: nos dias 15 de outubro de 2017, de novo a imagem das árvores negras, carros acidentados à beira da estrada, casas reduzidas as escombros, rostos de desespero. Ontem completou-se um ano desta tragédia.
Recorde-se que, em 2017, 80% do concelho de Castelo de Paiva ardeu. Foram dezenas de casas ardidas, mais de 200 pessoas retiradas para um pavilhão, fábricas destruídas e pessoas refugiadas em cafés ou a fugir. Além de Castelo de Paiva, diversos outros concelhos foram atingidos, alguns infelizmente com vítimas fatais.
“Foi o pior dia do ano” , nas palavras de Patrícia Gaspar. Coube à adjunta de operações da Autoridade Nacional da Proteção Civil dar conta ao país dos mais de 300 incêndios que deflagraram naquelas 24 horas.
Uma tragédia depois da tragédia, que atingiu 27 concelhos dos distritos de Coimbra, Viseu, Leiria, Aveiro, Castelo Branco e Guarda.
Cinquenta pessoas morreram e 70 ficaram feridas, 10 das quais com gravidade.
Mil quatrocentas e oitenta e três casas foram total ou parcialmente atingidas. Oitocentas eram habitações permanentes.
Quinhentas empresas foram total ou parcialmente destruídas, incluindo 38 empreendimentos turísticos. Perderam-se cinco mil empregos.
Duzentos e vinte mil hectares de território ardidos entre Viseu e o Tejo, cerca de 190 mil dos quais de floresta.
E como poderíamos esquecer? Aquele foi o maior “fenómeno piro-convectivo” de sempre na Europa (uma combinação ‘explosiva’ entre ventos fortes, temperaturas elevadas e baixos níveis de humidade) e o maior do mundo em 2017. Arderam 10 mil hectares por hora, ao longo de 13 longas horas.
Jamais esqueceremos que perderam-se casas, empregos e muitos hectares de floresta, tanto aqui em Castelo de Paiva como em Tondela, Seia, Oleiros, Sertã, Pampilhosa da Serra, Vila Nova de Poiares, Miranda do Corvo, Figueira da Foz, Mira, Carregal do Sal, Mortágua, Nelas e Vagos
O mapa estende-se a 59 dos 100 municípios que integram o Turismo do Centro. Trinta e oito empreendimentos turísticos foram, total ou parcialmente, destruídos e nos dias depois do fogo houve 77% de cancelamento das reservas em hotéis.
Foi um tropeção temporário para o turismo. Mas, surpreendentemente, o ano de 2017 acabou por ser o de maior crescimento de que há memória naquela região. As dormidas e visitantes cresceram 14,7% em relação ao período homólogo do ano anterior, bem acima da média nacional (7,4%). Há esperança na solidariedade do povo português.
Marcelo Rebelo de Sousa foi um dos muitos turistas solidários. O Presidente da República cumpriu a promessa e passou as férias de verão deste ano em vários concelhos afetados. O turismo solidário fez a diferença para esses concelhos e na vida das pessoas afetadas pelos incêndios.
15 de Outubro de 2017 é um dia para jamais esquecermos. Estes incêndios não podem ser esquecidos, tanto em Castelo de Paiva como nos demais concelhos, que perderam não apenas bens materiais, fábricas e florestas, mas vidas preciosas.
Apesar de lembrarmo-nos da data com tristeza, é preciso acreditar em dias melhores, e tomar no tempo presente atitudes que nos possibilitem ter um futuro adiante de nós com mais segurança, solidariedade e mecanismos de combate às chamas cada vez mais eficientes.
Que esta data sirva como Memorial não apenas do que perdemos, mas como alerta para que estejamos preparados para evitar maiores perdas no futuro, caso hajam novos incêndios.