Para controlar os efeitos da pandemia a melhor forma, e aconselhada por grande parte dos especialistas, é manter o distanciamento social. Há quem, no entanto, defenda a imunidade de grupo como solução, mas esta pode não ser a melhor ideia.
A imunidade de grupo é baseada na ideia de que, quando um número suficientemente elevado de pessoas supera a doença, a sua transmissão é interrompida. Isso supostamente ocorre porque cada paciente encontra um número menor de pessoas suscetíveis de serem infetadas, uma vez que muitas já estão imunes.
Essa estratégia tem sido discutida, mas não parece viável. Talvez por isso a maioria dos países esteja a optar como promover o distanciamento físico e as medidas de confinamento. A ideia de deixar a população “à solta” é uma hipótese que neste momento não está em cima da mesa em nenhum estado.
Ainda assim, e apesar das preocupações com a saúde pública crescerem, o que também se tem afirmado é o medo de haver um colapso na economia dos países. Por essa razão há pessoas que promovem novamente a imunidade de grupo .
Neste sentido, um grupo de especialistas publicou no início do mês de outubro a Great Barrington Declaration, na qual rejeitam as medidas de confinamento e distanciamento por estas serem demasiado pesadas a nível social e económico, defendendo assim que as pessoas deveriam “viver normalmente” até atingirem a imunidade de grupo.
No seguimento desta publicação, um outro grupo de especialistas respondeu ao que foi dito publicando o manifesto de John Snow, onde a imunidade de grupo é tida como uma má ideia.
De acordo com este manifesto, optar pela imunidade de grupo seria a mesma coisa que escolher deixar milhões de pessoas morrerem. Apesar da letalidade do SARS-CoV-2 não ser conhecida ao certo, as estimativas giram em torno de 0,6% das mortes por infetados.
Para além disso, iria haver um colapso nos sistemas de saúde devido ao elevado número de infetados que requerem hospitalização, o que implicaria que não só os pacientes com covid-19 iriam sofrer, mas também os doentes de outras patologias que não poderiam receber os cuidados necessários.
Por outro lado, os especialistas garantem que esta medida pode não ser melhor porque não se saberia se atingiríamos imunidade de grupo pois não há ainda certezas de como funciona a imunidade individual.
Era necessário que 60 a 70% da população ficasse imune ao mesmo tempo, para que a imunidade fosse alcançada. No entanto, ainda não se sabe como funciona a imunidade ou quanto tempo dura. Os anticorpos, que são a parte da resposta imune que mais estudamos, desaparecem após alguns meses, especialmente nos casos leves.
Como tem sido analisado nos últimos meses de pandemia, já houve registo de reinfeções o que pode ser um obstáculo intransponível para a obtenção de imunidade de grupo.
Uma outra questão é que a proteção direcionada neste sentido não é apenas eticamente discutível: também apresenta dificuldades técnicas. É extremamente difícil isolar os idosos e os grupos vulneráveis, pois dessa forma não poderiam receber visitas e não teriam qualquer tipo de acompanhamento.
Outra dificuldade é definir a população vulnerável. Muitos jovens, aparentemente sem patologias anteriores, sofreram casos graves de covid-19, e não há forma de identificar essa população de risco, pois pode ser qualquer pessoa.
O documento refere como ponto negativo o facto das estimativas de imunidade de grupo serem baseadas em modelos matemáticos discutíveis. Normalmente, a imunidade é calculada como (1-1 / R₀) x100), onde R₀ é um novo conceito que surgiu durante a pandemia. Mas essas estimativas são baseadas em modelos simplificados que ignoram o papel dos super propagadores.
Estes aspetos parecem muito claros e apresentam fortes razões para a população não querer optar pela imunidade de grupo. Contudo, muitos países estão neste momento novamente confinados e muitos empregos voltaram a estar em risco.
Segundo o The Conversation, a angústia e o desejo de recuperar a normalidade são os fatores que mais pesam quando as pessoas dizem preferir a imunidade de grupo, em vez do isolamento social.
No entanto, segundo o manifesto, as consequências de deixar a pandemia evoluir de forma incontrolável seriam ainda mais devastadoras do que o efeito das atuais medidas.