Com o aumento dos preços das casas em Lisboa, a necessidade de dividir despesas cresce também. Por isso, a divisão de casas entre trabalhadores com mais de 30 anos está a aumentar.
Dividir a renda surge como a única solução viável para se viver na capital, devido ao aumento dos preços no centro de Lisboa. E se essa é uma prática recorrente entre jovens estudantes, o número de adultos trabalhadores com idades acima dos 30 que se vê obrigado a recorrer a essa prática está também a aumentar.
José Carvão tem 41 anos, é professor de geografia e divide casa “com três pessoas, mas não são professores”. À Renascença, o docente confessa que “uma casa sozinho é muito mais cara e nós, professores, não temos quaisquer ajudas de custo”.
“Neste momento, já efetivei, mas ganho exatamente o mesmo. Ao partilhar casa, as despesas são divididas e para alguma eventualidade está lá alguém que nos possa auxiliar. Há partilhas que correm melhor do que outras, nem todos somos iguais”, ressalva.
Na mesma situação que o geógrafo, está o assessor de imprensa de 31 anos, Duarte Borges. Há cinco anos que saiu de casa dos pais para dividir um apartamento com um amigo. Mas não é só o apartamento que se vê obrigado a dividir: “Temos de dividir tudo: as rotinas, os feitios, horários. O espaço não é só nosso e partilhá-lo com outra pessoa implica também que essa pessoa entre no nosso mundo, na nossa intimidade e no nosso tempo de descanso”.
No caso do gestor de redes sociais de 29 anos, que preferiu ficar anónimo, a divisão do espaço com uma amiga está a correr bem, até porque “os horários não interferem muito”.
“É complicado alugar sozinho um apartamento em Lisboa, os preços estão elevadíssimos. A nossa dinâmica é boa, mas eu achava que com esta idade já teria a minha casa… se calhar daqui a uns tempos gostaria viver sozinho”, admite.
O presidente da Associação Lisbonense de Proprietários, Menezes Leitão, acredita que esta situação se está a tornar muito frequente no centro de Lisboa devido à escassez de imóveis.
“Há uns anos havia muitos proprietários que nos procuravam para ajudar a colocar as casas no mercado de arrendamento. Neste momento, já não nos procuram para esse efeito. Notamos que há um grande receio dos proprietários em arrendar. Isso leva a que, devido à escassez de oferta, as rendas aumentem de preço e é o que está a acontecer”, refere.
Já o presidente da Associação de Inquilinos Lisbonenses, António Machado, aponta a especulação imobiliária como causa para as rendas que obrigam muita gente a partilhar casa já em idade adulta.
Aumentando a especulação e os preços, cada vez as pessoas têm mais dificuldade em suportar sozinhas os custos de habitação e, portanto, a partilha de habitação é uma solução possível – como noutras épocas, em que chamavam hospedagem, agora chama-se partilha de casa, mas é uma situação idêntica”, diz.
“Estou a falar de gente empregada e que tem algum rendimento. Se o rendimento médio nacional é da ordem dos 800 euros, se as rendas andam por mil, naturalmente não é suportável só por um. E até por dois é difícil”, sublinha.
Fonte: ZAP