De acordo com uma nova investigação, o consumo de laticínios está associado a um menor risco de contrair doenças cardiovasculares e de morte precoce. O segredo, explicam os cientistas, está na quantidade – três doses diárias é o ideal.
A investigação, publicada na semana passada na revista The Lancet, estuda a ligação entre o consumo de laticínios e a saúde cardiovascular. O estudo contou com dados de mais de 136 mil pessoas de 21 países.
“As diretrizes dietéticas recomendam a diminuição do consumo de produtos lácteos integrais, uma vez que estes são fontes de gorduras saturadas e supostamente prejudicam os lípidos sanguíneos, aumentando o risco de doenças cardiovasculares e a mortalidade”, disse o autor principal do estudo, Mahshid Dehghan da McMaster University.
No entanto, sublinha que há poucas evidências e dados que sustentam as conclusões dos efeitos do consumo de lacticínios. E, por isso, o objetivo da pesquisa passou por avaliar a relação entre o consumo destes produtos com a mortalidade e as doenças do coração.
Procedimento experimental
Para a investigação, os cientistas da Prospective Urban and Rural Epidemiology (PURE) analisaram dados de 136.384 participantes, com idades entre os 35 e os 70 anos.
A amostra estava dividida em quatro categorias associadas ao consumo de produtos lácteos: sem qualquer consumo (28.674 indivíduos), menos de uma porção diária (55.651), uma a duas porções diárias (24.423) e mais de duas porções diárias (27.636).
Para a pesquisa definiu-se uma porção padrão diária de laticínios de 244 gramas – que corresponde a um copo de leite ou a um iogurte – ou então, 15 gramas de queijo ou 5 de manteiga.
As conclusões revelarem que o consumo de produtos lácteos é maior na América do Norte e na Europa – cerca de 368 gramas ou mais de quatro porções diárias. Em sentido oposto, os valores mais baixos registam-se no sul da Ásia, China, África e sudeste da (147, 102, 91 e 37 gramas por dia, respetivamente).
O grupo com alto consumo de laticínios integrais apresentou taxa de mortalidade de 3,4%, enquanto os que não consumiam leite e derivados alcançaram taxa de 5,6% .
Quanto aos problemas cardiovasculares, registaram-se menos mortes (0,9%) no primeiro grupo em relação ao segundo (1,6%), e também menos AVC’s não fatais (1,2% contra 2,9%, respetivamente). Apenas a quantidade de enfartes de miocárdio não registou diferenças significativas (cerca de 0,3 pontos percentuais).
Ou seja, as pessoas que consumiam mais leite ou iogurtes (mais de uma porção padrão por dia) registavam menores taxas de doenças cardiovasculares e, consequentemente, de morte prematura.
“As descobertas sustentam que o consumo de produtos lácteos pode ser benéfico para a mortalidade e para as doenças cardiovasculares, especialmente em países com rendimentos mais baixos, onde o consumo de lácteos é muito menor comparativamente com a América do Norte ou a Europa”, concluiu o investigador.
No entanto, e tal como nota o El País, o estudo não mostra uma correlação causal entre o consumo de produtos lácteos e o estado de saúde. No entanto, sublinham os investigadores, tem havido uma certa “demonização” no consumo de leite.