(dr) Dror Maayan
Um grupo de arqueólogos descobriu uma representação de Jesus Cristo, datada do século VI, extremamente rara e que difere da imagem cristã tradicional.
A descoberta foi feita na parede de uma antiga igreja em Shivta, no sul de Israel, de acordo com o estudo publicado a 29 de agosto na revista Antiquity.
Os evangelhos nunca descreveram exatamente a aparência de Jesus. Todas as representações são de artistas posteriores e, quanto que as gravuras sobreviventes abundam em velhos mosteiros e igrejas, em Israel são quase inexistentes.
Em contraste com a imagem ocidental de Jesus, que o representa com cabelo comprido e barba, a pintura encontrada em Israel mostra um figura sem barba, cabelo curto e encaracolado e olhos e nariz grandes.
Ao lado da imagem de Jesus, encontra-se outra cara menos visível. Segundo uma equipa de especialistas da Universidade de Haifa, a gravura representa o episódio bíblico do batismo de Jesus, sendo a outra figura João Baptista.
Shivta foi fundada no século II a.C e sobreviveu durante cerca de 650 anos, antes de ser abandonada no início do período islâmico. A aldeia sustentou uma grande população e, durante o seu apogeu, teve três igrejas. A primeira pintura de Jesus em Shivta foi encontrada na igreja mais a sul e estava muito desgastada. Já esta, que representa o seu batismo, foi encontrado na igreja mais a norte.
A pintura foi descoberta por uma equipa de arqueólogos em 1920. Mas, devido ao seu mau estado de conservação, não atraiu atenção. Na verdade, a imagem está tão desgastada que até os investigadores da arte moderna mal conseguiram vê-la.
“Eu estava lá na hora certa, no lugar certo com o ângulo certo de luz e, de repente, vi os olhos”, disse Emma Maayan-Fanar, da Universidade de Haifa. “Era o rosto de Jesus durante o seu batismo, a olhar para nós”.
A representação de Jesus Cristo com cabelo curto foi difundida pelo Egito e no Mediterrâneo – onde hoje a Síria e a Palestina estão localizadas – na arte bizantina, mas desapareceu.
Pode assumir-se que Jesus possa ter tido uma aparência do Oriente Médio, mas isto não é assim tão simples. Características fisiológicas comuns nas populações atuais – como olhos escuros e cabelos mais curtos – não eram tão comuns nos tempos antigos, à medida que populações geneticamente distintas surgiam e desapareciam por toda a Terra.
O que parece claro na multiplicidade de representações através dos séculos e ao redor do mundo é que Jesus parece-se com aqueles que o seguem, adaptando-se à moda, experiência cultural e costumes da época.
Não se sabe se a gravura será uma representação exata da aparência de Jesus Cristo. Ainda assim, os arqueólogos enfatizam que esta é uma descoberta muito importante que pode expandir o conhecimento sobre a arte cristã primitiva na região.