Num processo curiosamente semelhante ao envelhecimento humano, a maior parte das estrelas no seu capítulo final da vida tendem a encolher, murchar e ficar lentamente brancas.
Os astrónomos chamam a estas estrelas de “anãs brancas” e, ao contrário dos seres humanos, podem durar milhões de anos.
Nesse tempo, estrelas com massas entre cerca de um décimo e oito vezes a massa do nosso Sol queimam a sua último energia nuclear, perdem camadas externas de fogo e transformam-se em núcleos ultra-compactos. Embora isso possa soar como um final sem glamour para uma estrela, um novo estudo publicado este mês na revista Nature sustenta que o estado de anã branca pode ser apenas o começo de uma nova metamorfose.
Num estudo com mais de 15 mil anãs brancas conhecidas em redor da Via Láctea, uma equipa de astrónomos da Universidade de Warwick, no Reino Unido, concluiu que as estrelas não desaparecem – primeiro transformam-se em esferas de cristal luminosas.
“Todas as anãs brancas se cristalizarão em algum ponto da sua evolução”, disse o principal autor do estudo, Pier-Emmanuel Tremblay, um astrofísico da Universidade de Warwick, em comunicado. “Isso significa que milhões de anãs brancas na nossa galáxia já completaram o processo e são essencialmente esferas de cristal no céu.”
Se isto for verdade, então o próprio sol da Terra – assim como 97% das estrelas na Via Láctea – também estão destinados a terminar os seus dias como bolas de cristal a brilhar no cosmos.
Para o novo estudo, Tremblay e os seus colegas usaram observações do satélite Gaia da Agência Espacial Europeia para analisar a luminosidade e as cores de cerca de 15 mil anãs brancas conhecidas, localizadas a 300 anos-luz da Terra. Os investigadores viram que um excesso de estrelas parecia partilhar as mesmas luminosidades e cores, independentemente do tamanho e da idade das estrelas.
A aparência uniforme destas estrelas sugeria que as anãs tinham atingido algum tipo de fase de desenvolvimento. Usando modelos de evolução de estrelas, os astrónomos determinaram que todos estes astros chegaram a uma fase em que o calor latente estava a ser libertado dos seus núcleos em grandes quantidades, diminuindo significativamente o arrefecimento.
Quando uma anã branca arrefece bastante, o líquido fundido no seu núcleo começa a solidificar-se – noutras palavras, a estrela começa a transformar-se em cristal.
De acordo com Tremblay, este estudo fornece “a primeira evidência direta de que as anãs brancas se cristalizam”, finalmente apoiando uma hipótese levantada há 50 anos.
De acordo com o novo estudo, porém, o calor libertado durante a fase de cristalização da anã branca poderia retardar o arrefecimento da estrela em até dois mil milhões de anos. Se for este o caso, anãs brancas conhecidas podem ter muitos mais milhões de anos do que se pensava, o que complica uma cronologia já misteriosa.
Não se sabe exatamente quanto tempo uma estrela pode permanecer como uma anã branca antes de deixar de emitir luz e calor, tornando-se o que alguns investigadores chamam de “anã negra”. Este ponto final teórico da evolução estelar nunca foi observado.
Mais estudos são necessários para que os cientistas entendam melhor a vida e a morte das estrelas e aprimorem os seus métodos de datação cósmica.