Um cientista português que lidera uma unidade de astrobiologia em Macau disse hoje à Lusa que está envolvido em projetos para descobrir vida em Marte, uma missão com paragens previstas em Cabo Verde e nas salinas de Aveiro.
“O meu papel e o da unidade de astrobiologia que foi recentemente criada (…) é informar (…) e preparar (…) as condições técnicas e laboratoriais necessárias para o sucesso de futuras missões chinesas à procura de vida em Marte e noutras partes do sistema solar”, explicou André Antunes.
Quase uma semana após Pequim lançar uma sonda para pousar no planeta vermelho, um projeto no qual está envolvida a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), o professor associado da instituição sublinhou que a “missão é muito importante no âmbito da recolha de dados (…), nomeadamente a nível de gelo de água existente no subsolo” de Marte, até porque “a água é essencial para a vida como (…) a conhecemos”.
As restrições causadas pela pandemia de covid-19 atrasaram os trabalho de campo programados para Cabo Verde e Portugal, nas salinas de Aveiro, dois locais cuja escolha é explicada pelo cientista natural de Coimbra: “Tendo em conta que a água a existir em Marte será água com elevado conteúdo de sal, é essencial investigarmos ambientes com elevado conteúdo de sal também no nosso planeta”.
“Temos atualmente saídas de campo, recolhas de amostras programadas para Cabo Verde, interior da china, salinas em Aveiro, salinas que existem no interior de Espanha, porque todas elas têm condições que são extremamente interessantes e bastante úteis para o estudo de Marte”, salientou o responsável pela unidade de astrobiologia do Laboratório de Referência do Estado para a Ciência Lunar e Planetária da MUST.
Grande parte da investigação que se faz atualmente na astrobiologia tem a ver com o estudo de ambientes análogos, acrescentou André Antunes, que chegou a Macau no início de setembro, já com o projeto chinês de lançamento da sonda para explorar Marte numa fase final.
Ou seja, explicou, boa parte da investigação nesta área dedica-se a analisar “ambientes existentes na Terra que têm condições parecidas” àquelas que podem ser encontradas em Marte ou em outras partes do sistema solar”.
A pandemia de covid-19 “atrapalhou um bocadinho as obras de estabelecimento da unidade [de astrobiologia] e até do ponto de vista de programação de expedições científicas, recolha de amostras, contratação de novas pessoas”, mas a missão continua a ser crucial e será agendada assim que o novo coronavírus der tréguas, assegurou.
A MUST está envolvida na missão chinesa que vai explorar Marte, após Pequim lançar na quinta-feira uma sonda para pousar no planeta vermelho.
Neste momento, o laboratório para a Ciência Popular e Planetária na universidade tem em mãos 11 projetos de investigação em Marte, concluídos ou em desenvolvimento, e vai continuar envolvido nos trabalhos de exploração relacionados com a exploração do planeta, espaço e vida extraterrestre.
O laboratório vai continuar envolvido nos trabalhos sobre a estrutura interna de Marte, as reservas de água congelada, ambiente à superfície e espacial, bem como investigação sobre vida extraterrestre.
Os investigadores da universidade trabalharam na topografia e geomorfologia de Marte. E uma série de investigações foram conduzidas sobre exploração, astrobiologia, radiação, atmosfera e poeira (formada por tempestades de areia), estrutura interna, campo magnético e ambiente espacial.
Em particular, sublinhou a MUST, a investigação sobre a atmosfera marciana e o clima assolado pela poeira é de grande importância para garantir a exploração segura do veículo espacial marciano.
A MUST conta desde o final de 2019 com um Centro de Ciência e Exploração Espacial da Administração Espacial Nacional, no âmbito de um acordo de cooperação de desenvolvimento científico e tecnológico assinado em dezembro de 2019 entre aquela entidade chinesa e o Governo de Macau.
Um ano antes, o Ministério da Ciência e Tecnologia já tinha aprovado o estabelecimento do Laboratório Estatal de Ciências Lunares e Planetárias.
A China lançou na quinta-feira a sua mais ambiciosa missão a Marte, numa tentativa de pousar com sucesso uma sonda no planeta vermelho, feito alcançado apenas pelos Estados Unidos até à data.