A ameaça de greve dos motoristas para agosto, que antecede as legislativas, pode pressionar o Governo a chegar um acordo urgente. Os sindicatos definem esta quarta-feira os serviço mínimos da greve.
“Este ano é ano de eleições, em outubro. Se nós não conseguirmos fazer nada este ano, eu acho um bocado difícil”, disse o vice do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP), Pedro Pardal Henriques, durante o Congresso Nacional de Motoristas, que decorreu este mês.
Assim, os sindicatos esperam aproveitar as eleições legislativas marcadas para outubro de forma a pressionar o Governo a chegar a um acordo para as reivindicações dos motoristas.
Os representantes dos motoristas pretendem um acordo para aumentos graduais no salário-base até 2022: 700 euros em janeiro de 2020, 800 euros em janeiro de 2021 e 900 euros em janeiro de 2022, o que com os prémios suplementares que estão indexados ao salário-base, daria 1.400 euros em janeiro de 2020, 1.550 euros em janeiro de 2021 e 1.715 euros em janeiro de 2022.
Esta quarta-feira serão definidos os serviços mínimos da greve, que se realiza a 12 de agosto.
O pré-aviso do SNMMP e do Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) propõe serviços mínimos de 25% em todo o território nacional, enquanto na greve de abril eram de 40% apenas em Lisboa e Porto.
De acordo com o documento a que a Lusa teve acesso, a proposta de serviços mínimos a assegurar “tem por referência 25% dos trabalhadores” em cada empresa que preste abastecimento de combustíveis, por exemplo, a “portos, aeroportos e postos de abastecimento das empresas que têm por objeto a prestação de serviço público de transporte de passageiros, rodoviários, ferroviários e fluviais”, bem como a “estruturas residenciais para pessoas idosas, centros de acolhimento residencial para crianças e jovens, estabelecimentos de ensino, IPSS e Santas Casas da Misericórdia”.
Já no caso do “abastecimento de combustíveis e matérias perigosas a hospitais, centros de saúde, clínicas de hemodiálise e outras estruturas de prestação de cuidados de saúde inadiáveis, estabelecimentos prisionais, bases aéreas, serviços de proteção civil, bombeiros, forças de segurança e unidades autónomas de gaseificação”, os sindicatos propõem que estes serviços sejam assegurados na totalidade, “nas mesmas condições em que devem assegurar em dias úteis, de feriado e/ou descanso semanal”.
Na segunda-feira, o SIMM ameaçou consequências mais graves para a greve que começa em 12 de agosto do que as sentidas em abril. O sindicato avisou que, além dos combustíveis, a próxima greve vai afetar também o abastecimento às grandes superfícies, à indústria e serviços, podendo “faltar alimentos e outros bens nos supermercados”.
A indústria, alertou o SIMM, “vai sofrer graves perdas e grandes exportadoras como a Autoeuropa correm o risco de parar a laboração”.
ANTRAM pede serviços mínimos de 75%
A Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias defende que são necessários serviços mínimos de 75% para assegurar o “direito constitucional” a férias, noticia o jornal ECO.
“É preciso rever os serviços mínimos. Na última greve foram de 40% e a paralisação parou o país. Sugerir agora 25% não faz sentido. A ANTRAM vai propor ao Governo a definição de serviços mínimos superiores, para que se assegure o direito constitucional dos portugueses a irem de férias”, apontou André de Almeida, representante da ANTRAM.
“Há que garantir que hospitais, aeroportos e outros serviços básicos para os portugueses estejam de alguma forma garantidos e que alguns destes serviços tenham 100% de trabalhadores”, insistiu.
No entanto, os sindicatos não parecem agradados com esta sugestão. “Isso são serviços máximos”, rematou Pedro Pardal Henriques. O sindicalista reitera a proposta de 25% e diz que caso sejam definidos mais de 40% de serviços mínimos, significa que o Governo “não está preocupado com os motoristas” e está a ser conivente com a ANTRAM.
“Estamos curiosos para ver se o Governo vai fraquejar e mostrar se a sua aliança com a ANTRAM e as petrolíferas é mais forte do que aquilo que é a razão e a justiça”, acrescentou.
A ANTRAM garantiu ainda que não negoceia com os sindicatos sob a ameaça de greve, dificultando desta forma um acordo que evite a paralisação dos motoristas marcada para agosto.
Abastecer antes da greve
O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, defendeu esta quarta-feira que os portugueses devem começar a “abastecer” as suas viaturas para “se precaverem” no caso de haver greve dos motoristas.
“Temos todos de nos preparar. O Governo está a fazer o seu trabalho [para evitar a greve], mas todos podíamos começar a precaver-nos, em vez de esperarmos pelo dia 12, que não sabemos se vai acontecer [a paralisação]. Era avisado podermo-nos abastecer para enfrentar com maior segurança o que vier a acontecer”, disse Pedro Nuno Santos aos jornalistas em Matosinhos, à margem da apresentação de um investimento na ferrovia.
Fonte: ZAP