Os novos e mais baratos passes sociais, que esta segunda-feira entraram em vigor, arriscam-se a ser a medida mais disputada desta legislatura. No dia em que começaram a vigorar, os líderes dos três partidos que formam a “gerigonça” fizeram questão de sair à rua para celebrar a medida e nenhum deles se esqueceu de mencionar o contributo próprio para a sua concretização.
Foi com uma espécie de mini-tour pela Área Metropolitana de Lisboa (AML) que o primeiro-ministro, António Costa, assinalou a medida. Numa viagem entre a Ericeira e Setúbal, o líder do Executivo socialista fez-se acompanhar com ministros do Ambiente e Infraestruturas, Matos Fernandes e Pedro Nuno Santos, e o presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina.
Mas nem só de PS e Governo se fez este percurso: a viagem contou também com a presença do presidente da Câmara de Mafra, o social-democrata Hélder Silva, a que se foram juntando pelo caminho outros autarcas, como a socialista Inês Medeiros (Almada) e os comunistas Bernardino Soares (Loures) e Maria das Dores Meira (Setúbal).
No que respeita à aplicação dos novos tarifários dos passes sociais na AML, Costa considerou que se tratou de um “trabalho notável feito entre autarcas e Governo”.
“Permitiu não só uma redução muito significativa do custo tarifário, mas também fazer uma coisa com que há décadas se sonhava: um único passe que dê para toda a Área Metropolitana e para todos os operadores, seja de autocarro, comboio, barco ou elétrico. Tem a vantagem absolutamente extraordinária de cada um ter a liberdade de escolher os seus trajetos”, defendeu António Costa.
Confrontado com as críticas sobre um possível eleitoralismo da medida, o líder do Governo rejeitou desde logo esse cenário. “Este foi um semente lançada há muito tempo”, recordou o primeiro-ministro, dando conta que a medida arrancou em março do ano passado numa cimeira entre o Governo e as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto.
“Agora não faz sentido é parar o país porque vamos três eleições, porque senão o país não fazia mais nada este ano (…) “A oposição, na altura, votou contra, está no seu direito, não podem agora que perceberam que a medida é boa dizer que é eleitoralista”, criticou.
Por sua vez, Matos Fernandes, que rotulou o dia de ontem como um “dia de festa” e “de verdade”, sublinhou a importância da medida quer para os utilizadores como para o planeta. “Rompendo com a tradição, este dia 1 de abril é mesmo o dia da verdade”.
“E o nosso objetivo é agora chegar a 2030 com menos 40% de emissões no setor dos transportes. E, e ao mesmo tempo que tudo isto é feito, fica mais barato, e de que maneira, para as pessoas, porque algumas vão poupar mais de 600 euros por ano e outras até mais do que isso”, acrescentou no seu discurso na cerimónia realizada no salão nobre da Câmara Municipal de Setúbal.
Bloco e PCP “reclamam paternidade” da medida
O PCP, pela voz do seu secretário-geral, mostrou satisfação com a implementação da medida, afirmando que neste caso em concreto o “pobre não pode desconfiar” da esmola.
Jerónimo de Sousa frisou “o papel e intervenção do PCP” no processo e vincou que depois deste “passo decisivo” e “medida de grande envergadura” é necessário reforçar a oferta e a qualidade dos transportes públicos.
“Mesmo no plano ambiental e ecológico, isto é um passo de grande significado, que leva à tal incredulidade de algumas pessoas que não acreditavam. Como diz o nosso povo, ‘quando a esmola é grande o pobre desconfia’. Creio que, neste caso, o pobre não deve desconfiar porque é verdade que vai haver esta redução dos preços dos passes”, afirmou.
“O que ouvi foi o reconhecimento pelo papel e intervenção do PCP neste processo de redução dos passes”, vincou aos jornalistas junto à linha de Sintra, onde assinalou a medida juntamente com vários utentes.
Também a líder bloquista, que escolheu o Cais do Sodré para celebrar a medida, defendeu que é necessário “aumentar a oferta”, recordando o papel do Bloco de Esquerda para a concretização da medida, ainda que de forma menos evidente de que os comunistas.
“É preciso aumentar a oferta”, disse Catarina Martins aos jornalistas. “Precisamos de mais barcos, de mais metros, de mais autocarros, de mais comboios a funcionar, para responder a uma procura que nós esperamos que seja crescente, porque o transporte coletivo é aquele que faz melhor à carteira de cada família”, enumerou
“Um passe mais barato é mais salário e mais pensão ao fim do mês, é o melhor para a organização das cidades e é, definitivamente, o passe” necessário “para o ambiente e para combater as alterações climáticas”.
Apontando ser necessário “fazer mais esforço”, Catarina Martins salientou que também o Bloco tem feito a sua parte. “Temos apresentado no parlamento várias propostas sobre o aumento do investimento, nomeadamente na ferrovia”, afirmou.
Catarina Martins recordou ainda que,”recentemente foi aprovado no Parlamento, por proposta do Bloco de Esquerda (…) a possibilidade de articulação entre CIM [comunidades intermunicipais] e as áreas metropolitanas, para que viagens que as pessoas fazem pendulares, ou seja, para ir e vir ao trabalho todos os dias, mas que não são dentro só de uma área metropolitana ou só de uma CIM também poderem ter este desconto”.
Também António Costa reconheceu que a medida poderá precisar de um “período de ajustamento” face à procura, garantindo, contudo, que esta relação entre a procura e a oferta será ajustada.
A medida, que conta já com três “pais”, vai custar 117,5 milhões de euros, juntando os valores atribuídos pelo Estado e pelas respetivas autarquias, ascendendo a um valor 38% superior ao que foi inicialmente apontado pelo Governo no Orçamento de Estado.
Enquanto os partidos da “geringonça” reclamam parte da “paternidade” da medida, e seguindo o conselho do primeiro-ministro, o melhor será mesmo desfrutar da medida, que, segundo defendeu António Costa, vai estimular também o turismo.
“Podem vir a Setúbal comer um belíssimo choco frito, ir a Vila Franca de Xira comer umas magníficas enguias, podem ir provar queijadas a Sintra, ir comer ouriços do mar a Mafra, podem ir comer um gelado em Cascais”, exemplificou.
Fonte: ZAP