“Analisámos com toda a atenção as respetivas declarações e documentos emitidos pela parte portuguesa. Em particular, os representantes portugueses dizem existir uma necessidade de informação adicional sobre esta situação, e entendemos muito bem que não tenham sido tomadas decisões finais”, considerou Oleg Belous, em entrevista à Lusa.
No final de semana passada, o embaixador português em Moscovo, Paulo Vizeu Pinheiro, foi chamado a Lisboa para consultas na sequência da crise diplomática entre o Reino Unido – e aliados – e a Rússia, motivada pelo envenenamento em território britânico do ex-duplo espião russo Serguei Skripal e da sua filha Yulia. Uma ação atribuída por Londres a Moscovo, que refuta as acusações.
“Temos acompanhado e analisado todos os comunicados e declarações do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, do ministro dos Negócios Estrangeiros e do Presidente da República”, assegurou o diplomata, 66 anos, que desde 2013 exerce em Lisboa as funções de embaixador da Federação da Rússia.
“Também sabemos que o embaixador português em Moscovo teve a oportunidade de passar os feriados da Páscoa no seu país, em Portugal, e também tomámos nota das decisões até ao momento anunciadas pelo Governo português”, precisou Oleg Belous, formado em 1973 pelo Instituto Estatal de Relações Internacionais de Moscovo, ano em que iniciou a carreira diplomática.
A 14 deste mês, o Reino Unido anunciou a expulsão de 23 diplomatas russos, decisão seguida nos últimos dias por muitos países ocidentais, pela Ucrânia e pela NATO, que afetou mais de 150 membros de representações diplomáticas da Rússia em dezenas de países e mereceu uma resposta equivalente de Moscovo. E mesmo que Londres não tenha fornecido “quaisquer factos”, como precisou, sobre o alegado envolvimento russo.
No total, a crise diplomática originada pelo envenenamento de Sergei Skripal com um produtor neurotóxico no início de março já implicou a ordem de expulsão de cerca de 300 diplomatas.
No entanto, sobre a decisão de Lisboa em não expulsar até ao momento qualquer diplomata russo, Oleg Belous, que chefia uma embaixada com 20 diplomatas, remeteu a explicação para o Ministério dos Negócios Estrangeiros português.
Na passada quarta-feira, a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, referiu numa comissão parlamentar que no caso de expulsão de diplomatas portugueses, a representação portuguesa em Moscovo ficaria “sem ninguém” e referiu-se a “aspetos pragmáticos”.
Neste âmbito, o embaixador russo, que já exerceu funções diplomáticas na França e Bélgica, ao serviço da União Soviética, e na segunda capital também ao serviço da Rússia, para além de ter representado o seu país junto da OSCE, rejeita a existência de relações particulares com Portugal.
“Não diria que temos relações privilegiadas com algum país da União Europeia (Notes:UE). Estamos interessados de uma forma igual no desenvolvimento das relações bilaterais com cada país membro da UE, e com a UE no seu conjunto”, assegurou.
No entanto, e caso Portugal acabe por acompanhar a decisão dos parceiros ocidentais, o embaixador de Moscovo assegura que haverá retaliação similar.
“Qual a diferença entre Portugal e outros países”, questionou. “Seria um problema do ministério português se ficassem sem diplomatas. Não estamos interessados em eventuais dificuldades que possam surgir na embaixada portuguesa em Moscovo… No caso de eventual expulsão de algum diplomata, o trabalho da representação diplomática será paralisado e podem ser consideradas várias opções. Sabemos que Portugal tem poucos diplomatas em Moscovo”.
A Rússia adotou “medidas de resposta” às expulsões de centenas dos seus diplomatas, justificou, lamentando a atual “fase complicada” das relações entre a Bruxelas e o seu país.
Apesar de definir como lamentável este recente e generalizado “incidente diplomático”, o representante de Moscovo insiste que não existe alternativa à cooperação “em todas as áreas entre a Rússia e a UE.
“E todos os nossos parceiros em Bruxelas e em outras capitais sabem isso”, considerou.
Lusa
Fonte: SIC