O incidente aconteceu numa sexta-feira 13, em setembro de 2002, “mas nem tudo é azar”, lê-se num artigo do Observador, que cita a história contada no podcast Outlook da BBC e recordada na rubrica Future.
“Era muito superficial”, contou Jason Padgett. “A vida girava à volta de miúdas, festejar, beber, acordar com uma ressaca e depois sair atrás das raparigas e ir para os bares outra vez”. E foi precisamente à saída de um bar que tudo aconteceu: uma agressão forte na cabeça, um soco na barriga e um casaco de cabedal usado roubado.
Na altura viu um clarão, como um ‘flash’, e caiu de joelhos. No hospital deram-lhe medicação contra as dores, mas só quando chegou a casa se apercebeu que algo tinha mudado.
Um traumatismo craniano como o que tinha sofrido, indica o Observador, pode deixar sequelas como um transtorno obsessivo-compulsivo. Jason Padgett passou a ter pavor de sair de casa e só o fazia para ir comprar comida.
Mas mais estranho do que isso foi a maneira como o antigo comercial começou a olhar para as coisas. “Tudo o que era curvo parecia levemente pixilizado”. Jason Padgett via pequenos quadrados (como os ‘pixels’ das imagens) em todas as linhas e superfícies.
Os quadrados perfeitos tornaram-se uma paixão – e uma obsessão. “Não é só o quadrado perfeito, é dois elevado a quatro ou quatro ao quadrado, mas gosto de quadrados perfeitos… Faço isso automaticamente com tudo”, referiu. É por isso que molha a escova 16 vezes antes de lavar os dentes.
À volta com os seus quadrados e fechado em casa, procurou informação na Internet e descobriu os fractais — formas geométricas que mantêm um padrão repetitivo mesmo quando se veem pormenores mais pequenos da imagem.
A ligação entre a matemática e a física fascinavam-no e começou a desenhar para tentar resolver os problemas e dúvidas que enfrentava. “Eu tinha, literalmente, mil ou mais desenhos de círculos, fractais, todas as formas que fosse capaz de desenhar. Era a única forma de comunicar eficazmente aquilo que estava a ver”, disse.
Os desenhos eram tão importantes para si que os levava para todo o lado, incluindo nos raros momentos que saía de casa. Numa dessas ocasiões foi abordado por um homem, um físico, que reconheceu nos desenhos um trabalho notável e o aconselhou a frequentar aulas de matemática para o ajudar a resolver os problemas que lhe ocupavam a mente.
Depois de três anos e meio de clausura, a vida de Jason Padgett voltou a mudar, tendo iniciado um tratamento para o transtorno obsessivo-compulsivo e conhecido a mulher com quem viria a casar.
Só depois de conhecer Berit Brogaard, neurocientista na Universidade de Miami, Jason Padgett percebeu o que lhe podia ter acontecido: a lesão cerebral causada pelo traumatismo podia ter-lhe criado novas ligações no cérebro.
Sinestesia é o termo usado para quando as ligações se cruzam e misturam e quando o estímulo de um sentido pode originar reações no outro, como quando a pessoa vê cores ao ouvir determinados sons.
A lesão e as novas ligações cerebrais pareciam explicar como é que Jason Padgett, que nunca gostara de matemática – nem lhe via utilidade -, se transformou num matemático.
Em 2014, publicou um livro sobre a sua história, “Struck by Genius: How a Brain Injury Made Me a Mathematical Marvel” (“Atingido por um génio: como uma lesão cerebral me tornou um prodígio matemático”). Dois anos depois, o livro deu origem a um filme.