O deputado bloquista que renunciou ao cargo por causa da duplicação dos reembolsos das viagens para as ilhas entregou o valor a uma associação da qual é vogal da mesa da assembleia-geral.
Na sequência da polémica com a acumulação de subsídios entre os deputados das ilhas, o deputado do Bloco de Esquerda, Paulino Ascenção, foi o primeiro a apresentar o seu “pedido de desculpas” e renunciou ao mandato de deputado.
Na altura, o parlamentar eleito pela Madeira acrescentou também que tomou a decisão de “proceder à devolução da totalidade do valor do subsídio de mobilidade” e que, “não sendo possível a sua devolução ao Estado português”, decidiu entregar o montante “a instituições sociais da região da Madeira”.
Segundo o Público, o deputado, que lidera o BE na Madeira, cumpriu o que prometeu. No final de abril, emitiu uma nota de imprensa, dando conta da doação de cinco mil euros à Associação Grupo Cultural ‘Flores de Maio’.
O comunicado, acompanhado pela imagem do recibo do donativo, elogia a referida associação que “faz um trabalho muito meritório no ensino dos instrumentos tradicionais madeirenses” e lamenta que as associações culturais sejam o “parente pobre” no que respeita aos apoios públicos ao associativismo.
“Lamentavelmente, são privilegiados os clubes desportivos e as associações com ligações aos dirigentes políticos”, acrescenta o coordenador do Bloco na nota, citado pelo jornal.
No entanto, de acordo com o Público, também a ‘Flores de Maio’ tem ligações a dirigentes políticos e, neste caso, ao próprio bloquista que deixou as críticas. Paulino Ascenção é vogal da mesa da assembleia-geral da associação desde 2007.
Este detalhe foi avançado pelo jornal digital Funchal Notícias e consta do registo de interesses que o deputado entregou na Assembleia da República.
Confrontado com esta questão, o antigo deputado madeirense desvaloriza a situação, revelando que não tem “qualquer interesse económico naquela associação” e que o cargo que ocupa nem sequer é remunerado mas antes “meramente simbólico”.
O bloquista, que entretanto foi substituído na Assembleia da República por Ernesto Ferraz, foi o único a renunciar ao mandato por este motivo. Entre os deputados expostos na polémica estão também os socialistas Carlos César, Lara Martinho, João Azevedo Castro, Luís Vilhena e Carlos Pereira e os sociais-democratas Paulo Neves, Berta Cabral, Sara Madruga, Carlos Costa Neves e António Ventura.
A social-democrata madeirense Sara Madruga também anunciou na altura que iria devolver o reembolso das viagens por uma “questão de consciência”. Por sua vez, o presidente do PS e líder da bancada do partido considerou que a duplicação de apoios de deslocação aos deputados das ilhas é “legal” e “eticamente irrepreensível”.
Fonte: ZAP