Mário Cruz / Lusa
O antigo primeiro-ministro, José Sócrates
Num artigo de opinião, Fernanda Câncio diz que Sócrates “instrumentalizou os melhores sentimentos dos seus próximos” e garante que “mentiu, mentiu e tornou a mentir”.
Fernanda Câncio, jornalista e antiga namorada do ex-primeiro ministro, escreveu esta segunda-feira um artigo de opinião no Diário de Notícias no qual procura justificar que não estava a par de nenhuma prática ilegal cometida por José Sócrates, nem antes nem depois de ter cessado funções.
Isto porque, segundo a jornalista, Sócrates mentiu sempre, quer ao partido e ao país, quer as que lhe eram mais próximos. “Independentemente de qualquer responsabilidade criminal alguém que age assim tem de ser persona non grata“, afirma.
Segundo a cronista, que foi ouvida como testemunha no processo Operação Marquês, Sócrates “fingiu ante toda a gente que tinha fortuna de família, rejeitando até rendimentos a que tinha direito como alguém que deles não necessitava. Urdiu uma teia de enganos. Mentiu, mentiu e tornou a mentir“.
Câncio refere-se ao facto de José Sócrates ter recusado receber dinheiro pelo espaço de comentário que ocupou na RTP, de 2013 a 2014, assim como ter recusado a subvenção vitalícia a que tinha direito por ter sido deputado desde 1987 – “e que agora está a receber”.
Não ter acesso a estes rendimento, ainda que por escolha própria, e “tratar como insulto qualquer pergunta ou dúvida sobre a proveniência dos fundos que lhe permitiam viver desafogadamente”, prova que José Sócrates que “mentiu ao país, ao seu partido, aos correligionários, aos camaradas, aos amigos”.
Mas a ex-namorada de Sócrates não fica por aqui. Fernanda Câncio adianta que, ao enganar as pessoas que o defendiam, Sócrates acabou por as expor ao “perigo de, se um dia se descobrisse a verdade, serem consideradas suas cúmplices“.
De acordo com Fernanda Câncio, os pagamentos do amigo empresário a José Sócrates que lhe permitiram ter uma vida desafogada depois de deixar São Bento foram “cuidadosamente escondidos não só do país como dos próximos”. É por esse motivo que a jornalista termina afirmando que “alguém que age assim tem de ser persona non grata”.
A jornalista falou pela primeira vez do caso num artigo de opinião de nove páginas publicado na Visão, em maio de 2016. “Se fizesse ideia da relação pecuniária entre Santos Silva e Sócrates teria feito perguntas por considerar a situação, no mínimo, eticamente reprovável”, disse Câncio na altura.
No que diz respeito à sequência de declarações de dirigentes do PS que levou ao afastamento voluntário de Sócrates do partido, Câncio escreve que esta “foi confusa e falou de suspeitas criminais”, ao invés de se centrar na “assunção do próprio de que andou deliberadamente a enganar toda a gente”.
“Confusas ou não, porém, as declarações levaram o ex-líder a finalmente libertar o partido do terrível peso da sua presença simbólica“, conclui.
Fonte: ZAP