O ex-presidente da Câmara de Gondomar Valentim Loureiro refutou a acusação do Ministério Público de benefício à mãe de dois filhos seus ao arrendar apartamentos desta no Porto para acolher estudantes que a autarquia suportou entre 2001 e 2013.
Em conferência de imprensa em Gondomar, o agora vereador negou a acusação de participação económica em negócio afirmando “não ter feito nada para obter benefício nem beneficiar ninguém”, argumentando que a renda paga pelos dois apartamentos alugados por Deolinda Silva “era uma contrapartida” e que “não havia valores exorbitantes” envolvidos.
No processo do qual disse ter “sido constituído arguido em 2013“, mas que só agora veio a público, Valentim Loureiro afirmou decorrer da geminação, em 2001, entre as cidades de Gondomar e da Praia, em Cabo Verde, que depois avançou para o apoio da câmara “à vinda de dez estudantes (quatro rapazes e seis raparigas) para a Universidade Portucalense”, responsabilizando-se pelo seu alojamento no Porto.
Vincando que a geminação e o apoio aos estudantes foi “aprovado por unanimidade” na autarquia, o agora vereador sem pelouro em Gondomar explicou que os quatro rapazes “ficaram instalados numa casa na Rua Costa Cabral” e que “a dificuldade em encontrar alojamento para as raparigas pelo vereador Pacheco da Silva” fê-lo “ter de intervir para solucionar o problema”.
Dando conta de uma sugestão do primo da mulher com quem na altura “já não mantinha uma relação extraconjugal”, que lhe sugeriu falar com ela “porque tinha dois apartamentos no Porto para alugar”, Valentim Loureiro disse ter “conseguido, a custo, persuadi-la para arrendar a casa às estudantes”, vincando que anteriores tentativas “noutras casas pararam assim que as pessoas souberam ser para africanos”.
“Fui obrigado a arrendar, in-extremis, aqueles dois apartamentos à D. Deolinda”, sustentou Valentim Loureiro, confrontado “no final de outubro de 2001” com a necessidade de “arranjar uma solução” estando a “chegada dos estudantes prevista para 3 de novembro”.
Com o apartamento em Costa Cabral, para os rapazes, “alugado por 120 contos (cerca de 550 euros), os outros, em Nevogilde, “no 1.º e 2.º andar de um prédio”, ficaram à “câmara de Gondomar por 100 contos (cerca de 500 euros) e por 180 contos (cerca de 825 euros)”, Valentim Loureiro disse que a Polícia Judiciária, em relatório posterior, considerou tratarem-se de rendas “dentro do valor de mercado”.
Ainda citando o mesmo relatório, Valentim Loureiro disse que a PJ “comprovou aquando das buscas em outubro de 2013, que os apartamentos não estavam vazios“.
Afirmando-se convencido de que a “carta anónima” que espoletou a investigação “surgiu após em novembro de 2012 ter anunciado durante uma Assembleia Municipal que seria Fernando Paulo e não ele o próximo candidato” do movimento independente à câmara gondomarense, o major questionou a “confiança da procuradora-geral adjunta na PJ”.
No final do seu último mandato como presidente, em outubro de 2013, Valentim Loureiro disse ter instruído a vereadora com o pelouro da Habitação para “transferir os estudantes das casas de Nevogilde – como o número havia diminuído, desde 2006 que não habitavam em Costa Cabral – para casas em Gondomar”, assim cessando uma ligação “com que até o PS concordou quando pediu informações em 2013”, concluiu.
Valentim Loureiro foi eleito presidente da câmara em 1993, pelo PSD, renovando os mandatos em 1997 e 2001.
Em 2005, na sequência do seu envolvimento no processo judicial Apito Dourado, o PSD recusou-lhe o apoio, invocando falta de credibilidade, mas, mesmo assim, Valentim Loureiro acabaria por renovar o mandato em 2005 e 2009, com a lista independente Gondomar no Coração.
Nas últimas eleições autárquicas de 2017, Valentim Loureiro recandidatou-se, mas acabou derrotado pelo PS, conseguindo, contudo, eleger dois vereadores.
Fonte: ZAP