A Caixa Geral de Depósitos (CGD) vai reter os dividendos de 300 milhões de euros que seriam pagos ao accionista Estado, referiu o presidente executivo do Banco público, Paulo Macedo, no Parlamento, frisando, contudo, que o “assunto não está fechado”.
Paulo Macedo garantiu nas Comissões Parlamentares de Orçamento e Finanças e de Economia que “não há qualquer proposta para dividendos”, mas antes para “reter os lucros para reservas“. Contudo, “o assunto não fica fechado porque o accionista pode fazer uma Assembleia Geral para este fim único”, notou o presidente da CGD.
Reforçando que os rácios de capitais da CGD estão “bastante sustentáveis”, Paulo Macedo notou que havia “condições para distribuir dividendos”.
Quanto aos prémios a pagar aos gestores pela performance de 2019, também ficarão suspensos, apesar de o Banco “ter registado, no ano passado, um resultado de 760 milhões de euros”, um “dos melhores da Caixa”, segundo Paulo Macedo. “No meu caso, não abdicarei do valor do prémio integral“, apontou ainda citado pelo Jornal de Negócios.
O presidente da CGD revelou ainda que o banco tem cerca de 30 mil pedidos de moratórias de créditos, no âmbito da lei do Governo, no montante de 2,4 mil milhões de euros. Destes, mais de 20 mil são pedidos de moratórias em créditos de particulares (créditos à habitação), no valor de 1,4 mil milhões de euros, e cerca de 10 mil são pedidos de moratórias de empresas (créditos de empresas), no valor de cerca de mil milhões de euros.
Desde final de Março está em vigor a lei que permite a suspensão dos pagamentos das prestações de créditos à habitação e créditos de empresas (capital e/ou juros) por seis meses, de Abril a Setembro.
Questionado pela deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua sobre o facto de a CGD ter menores moratórias de crédito do que outros bancos, Macedo indica que logo no crédito ao consumo terá menores, uma vez que a quota é menor.
Macedo frisa ainda que a própria CGD está a analisar o motivo por que sendo o banco líder no crédito à habitação não teve mais pedidos de moratórias em crédito à habitação, avançando que poderá estar relacionado com a base média de clientes da CGD não ter sido afectada no emprego, por serem mais pensionistas e funcionários públicos.
CGD já aprovou 4,3 mil milhões para apoio a empresas
Sobre as linhas de crédito Covid-19 (garantidas pelo Estado) para apoio a empresas, Macedo revela que o banco público tem 4,3 mil milhões de euros aprovados no total de 26 mil operações.
Ainda segundo o presidente do banco público, entre o financiamento que a CGD tem pré-aprovado, as linhas de crédito abertas e os empréstimos já transferidos para as contas dos clientes, o valor que a CGD tem disponível para empresas ascende a 10,7 mil milhões de euros.
Na terça-feira, o BCP disse que tem 4,3 mil milhões de euros de crédito para empresas, no âmbito de linhas Covid-19, e o Santander Totta indicou que tem aprovados 2.000 milhões de euros.
Esta semana, o parlamento está a ouvir os presidentes dos principais bancos sobre as medidas do sector de apoio a famílias e empresas e nomeadamente sobre as dificuldades colocadas para o empréstimo de dinheiro a empresas muito afectadas pela crise.
“Bancos não vão lucrar com a crise”
O presidente do Santander Totta garantiu, no Parlamento, que os bancos não vão lucrar com a crise e estimou que terão de criar dois a seis mil milhões de euros de provisões para fazer face a crédito malparado.
“Os bancos, e falo acima de tudo pelo Santander, não vão lucrar com esta crise, pelo contrário. Serão dos sectores mais afectados desta crise, a banca é um sector pró-cíclico, portanto, as suas receitas vão cair bastante com esta recessão e as suas provisões irão aumentar de forma significativa”, afirmou Pedro Castro e Almeida perante os deputados das Comissões de Economia e Orçamento.
O responsável estimou mesmo que nos próximos anos os bancos portugueses vão ter de constituir provisões entre dois e seis mil milhões de euros, para fazer face a crédito malparado, isto considerando que em tempos de crise o custo de crédito ronda entre 1% e 3% da carteira de crédito.
Pedro Castro e Almeida disse ainda que – além de disponibilizar linhas de crédito com garantia de Estado e as moratórias dos créditos – o Santander Totta concedeu em Março mais de 500 milhões de euros em financiamento à economia (excluindo linhas Covid-19) e que manteve os limites de crédito não utilizados aos clientes e ao mesmo preço, estimando esse valor em 6.000 milhões de euros.
Quanto à dificuldade das empresas em acederem aos apoios públicos disponibilizados através do Estado, Pedro Castro e Almeida disse que as empresas que estão a ter dificuldades em aceder a liquidez urgente são de dois grupos: microempresas (caso de cafés, devido à dificuldade em entregarem a documentação devida por não estarem habituadas) e empresas com crédito vencido ou com dívidas ao fisco e à Segurança Social (neste caso não podem aceder nem às moratórias nem às linhas de crédito garantidas, por decisão do Governo).
O presidente executivo do Santander Totta disse que o banco tem, actualmente, 70 mil moratórias de créditos no valor de 7,5 mil milhões de euros. Estas moratórias representam mais de 20% do montante da carteira de crédito de particulares e 40% da carteira de empresas, excluindo crédito ao Estado e a grandes empresas.
Já quanto às linhas de crédito para apoio a empresas, o Santander Totta disponibilizou 120 milhões de euros através da linha Capitalizar 2018 – Covid 19 e tem aprovados 2.000 milhões de euros que pode vir a atribuir a empresas.
Pedro Castro e Almeida também notou na sua intervenção que “no Santander não houve nem haverá ‘lay-off‘ nem perda de salários por causa da Covid-19″.
BCP paga bónus aos trabalhadores, mas não aos gestores
O presidente executivo do BCP revelou, no Parlamento, que o banco tem, actualmente, 80 mil moratórias de créditos, no valor total de 4,5 mil milhões de euros.
As moratórias a que se refere Miguel Maya têm que ver com suspensão de pagamento de créditos por famílias e empresas. Segundo o presidente executivo do BCP, em clientes particulares há 55 mil moratórias no montante de 2,3 mil milhões de euros.
Miguel Maya também revelou no Parlamento que o BCP vai pagar bónus aos seus trabalhadores, mas que não pagará prémios aos administradores apesar de ter apresentado “os melhores resultados dos últimos 12 anos”.
“Não podemos colocar em cima dos bancos todo o peso”
O administrador do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, disse, no Parlamento, que não deve ser posto sobre os bancos o peso da resolução dos problemas da actual crise e que prevê grande impacto na rentabilidade e provisões.
“O que está a passar vai ter consequências muito complicadas para a economia e para os seus agentes e no meio desses agentes estão os bancos e penso que não podemos, ou não devemos, colocar em cima dos bancos todo o peso de resolução das situações que vêm pela frente, porque vai ser impossível“, considerou.
O responsável do BPI defendeu que “vários outros agentes têm de vir a terreno dar o seu contributo”, caso da União Europeia, mas também do próprio Estado, que “terá de ter outra intervenção, outro tipo de iniciativas”, até porque para já as garantias que dá nos créditos bancários às empresas ainda não pesam sobre défice ou dívida pública (passarão a pesar se os bancos as accionarem de futuro face ao incumprimento das empresas).
“Todos temos de ter uma postura e abordagem construtiva face a tudo o que vem pela frente, não vai ser possível o sector financeiro sozinho acudir a todas as situações”, acrescentou.
O administrador do banco detido pelo grupo espanhol Caixabank disse ainda que os bancos têm de continuar a cumprir as exigências do regulador, nomeadamente rácios de liquidez e de capital, e sobre os rácios de capital terem sido aligeirados recentemente pelos reguladores, disse que isso aconteceu mas que é “momentâneo”, pelo que os bancos ou mantêm as almofadas financeiras ou de futuro terão de fazer aumentos de capital.
A partir de Outubro, disse, vê com preocupação o que vai acontecer (uma vez que em 30 de Setembro acabam as moratórias impostas pelo Governo para crédito à habitação e créditos a empresas), antevendo um aumento do crédito malparado e impacto negativo na rentabilidade.
Sobre o BPI, João Oliveira e Costa disse que o banco prevê um “impacto significativo” desta crise nas provisões e na rentabilidade.
“O BPI tem uma capacidade razoável para acomodar algum nível de imparidades e a rentabilidade vai ser afectada de forma bastante significativa“, afirmou.
Fonte: ZAP