Em qualquer crise existem três coisas sempre comuns, existe uma data para ela acabar, mais dia menos dia, mais semana, menos semana, aparecem novas oportunidades e uma terceira coisa que aprendemos são os ensinamentos para o resto da vida.
Quando no passado dia 10 de Março, como Presidente da Direção da Associação de Pais e Encarregados de Educacção do Agrupamento de Escolas de Castelo de Paiva fui convidado para uma reunião de trabalho com o Presidente da Câmara, Diretor Executivo do ACES Douro Sul, e com a Delegada de Saúde fiquei com a noção de que vinha aí algo pelo qual nunca tínhamos passado. Dia 11 de Março a OMS – Organização Mundial de Saúde anuncia que estamos uma pandemia, devido ao aumento drástico e a disseminação global do vírus. Dois dias depois, dia 13, encerram as escolas em todo o país. O nosso País começava a dar passos que levariam a que o Governo central declarasse o Estado de Emergência, algo que não havia memória na minha geração. A crise estava instalada, o comércio começava a ter restrições, algumas unidades fabris começaram a reduzir atividade, outras começaram a fechar, nuns e noutros casos por diversos motivos, uns por verem os fornecimentos de matéria prima interrompida, outros por precaução contra um contágio nos seus trabalhadores.
Convém aqui relembrar que em 1899 algo idêntico aconteceu em Portugal, a famosa Peste Negra, cujo vírus tinha sido descoberto em 1840, e que tinha gerado uma epidemia na província de Yunnan, na China. Cerca de 60 anos depois chegava ao Porto. Na época o governo de então impôs, entre outras restrições, entradas e saídas do Porto, e quem tentasse fugir a esta lei aplicava-se a pena de prisão de três a seis meses. Ora, 121 anos a história repete-se, e a origem reside no mesmo País, a China.
Todavia esta pandemia que agora afeta o mundo tem uma particularidade que a distingue de toadas as outras crises que afetaram o mundo, é a primeira que surge na era digital, e com uma globalização mundial ímpar. Uma facilidade de comunicação invulgar por todos os meios, por exemplo quando o governo chinês decretou as entradas e saídas no estado onde tudo isto começou, ainda conseguiram sair desse território 7 milhões de pessoas, direcionadas para os cinco continentes.
De crise em crise o mundo tem sobrevivido e novas oportunidades surgem. Oportunidades para os governos, empresas e a sociedade repensarem a forma como se organizam e se comunicam, aprendendo a seguir caminhos alternativos. Estou convencido que aqui o que vai fazer a diferença é adaptarmos bons e velhos hábitos.
No que há economia diz respeito, o futuro será dúbio, pois a redução do comércio exterior, o encerramento de fronteiras, a suspensão de voos, cancelamento de eventos, etc, tudo isto influencia diretamente o funcionamento económico dos países. Numa economia global como é a nossa é impossível imaginar a vida sem o contacto com outros lugares e pessoas. Estamos perante mercados retraídos, dificuldades financeiras, instabilidade entre investidores, vislumbra-se um cenário que parece não ser atraente.
Mas, se conseguirmos pensar friamente, crise e oportunidade de negócio podem ser sinónimos, isto porque esses períodos de instabilidade econômica podem ser a porta a grandes possibilidades para empresários com uma boa visão de negócio, capazes de entender as procuras do seu público e ainda de ter ideias criativas e inovadoras.
E as ideias surgem muitas vezes de onde menos esperamos. De facto, as oportunidades de negócio estão à nossa volta à espera de um empreendedor capaz de as identificar e de as aproveitar. Lembro-me de ver esta semana na televisão uma empresa que faz material para velas (desportivas), mas como o mercado está parado, adaptou-se e começou a fazer viseiras para a saúde.
Por exemplo, com a crise na saúde que agora estamos a viver, estão a surgir quer no sector têxtil, quer noutros sectores oportunidades de negócio e empresas que arrancaram com a produção destinada a suprir as necessidades do sistema de saúde. Assim, essas novas áreas de negócio estão divididas por quatro segmentos: EPI – Equipamentos de Proteção Individual, Fardamentos, Vestuário de Paciente, Cama e Higienização, de acordo com a estratégia conjunta montada pela ATP em articulação com o Governo e autoridades de saúde.
Tal como no passado, de crise em crise fomos sobrevivendo. SEPARADOS HOJE, PARA ESTARMOS JUNTOS AMANHÃ.
A vida não se resolve, a vida vive-se.
Paulo Ramalheira Teixeira
Presidente da Câmara Municipal de Castelo de Paiva de 7.1.1998 a 31.10.2009
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