Quem, alguma vez aceita o desafio de treinar uma equipa de futebol, tem que ter noção que, a partir daquele momento, a SOLIDÃO será uma companhia presente em muitos momentos.
Não é apenas no insucesso que ela se aproxima, sempre que a tomada de decisão é requerida lá aparece ela… altiva, arrogante e com a frieza necessária para turvar a mente e criar um turbilhão de emoções difíceis de lidar.
Tudo começa na pré-época. Por regra as portas estão abertas para a construção do plantel, mas rapidamente ficam apenas entreabertas e logo de seguida fecham-se. Como não existe espaço para toda a gente, como é óbvio, cabe ao treinador a responsabilidade de levar em diante a tarefa ingrata de dispensar atletas que apenas são seres com ilusões, expectativas e sonhos como outra pessoa qualquer, cada decisão provoca frustração, desilusão e tristeza em quem tem de sair. Por muito que se use o argumento “não é por falta de qualidade” ou “apenas temos a posição em que actuas ocupada” a mágoa está presente e ao contrário do que parece ser o entendimento de muita gente é um momento em que o treinador sente a pesada sombra da… SOLIDÃO.
Durante a época chegam as derrotas e com elas aqueles momentos em que de repente o treinador sente-se relegado a um canto como se estivesse de castigo, é o momento em que todas as suas decisões são questionadas (a começar pelo próprio) e a conclusão é na esmagadora maioria das vezes a mesma: “o treinador falhou”. É na SOLIDÃO que reflete, tenta perceber se perdeu porque fez opções erradas ou se apenas o seu adversário foi superior!
Contudo a SOLIDÃO é uma inerência ao cargo de treinador, apesar de ser um sentimento com uma carga negativa, não consegue retirar o prazer de quem gosta realmente do processo de treino.
Uma coisa é certa, quando um treinador diz que as críticas dos adeptos não incomodam está a mentir, temos de viver com elas, mas não gostamos, magoa e são na maioria das vezes injustas. Ainda não consegui entender aqueles que ao fim de 1 ou 2 minutos de jogo já descarregam a sua ira no treinador e muito menos consigo entender os treinadores que são convidados como comentadores televisivos e, desassombradamente, criticam os colegas de profissão parecendo ignorar que os estão a empurrar para o colo daquele sentimento que eles próprios já padeceram… SOLIDÃO!
Que fique claro… ser treinador é único!!!
Saudações Desportivas
Vitor Moreira – Treinador UEFA A + Elite Youth
Em crónicas e poemas
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