Como referi na semana passada, o acórdão Bosman teve inflluencia direta na criação de um fosso cada vez maior entre o futebol português e a elite. A partir de 1995 as grandes potências económicas monopolizaram os grandes talentos do futebol mundial, países como Portugal não conseguem segurar os melhores atletas e apenas conseguem contratar algumas promessas estrangeiras, e se até ao início desta década a eficácia dessas contratações era espantosa a mesma começou a descer e hoje em dia a percentagem de flops é assustadora.
Mas, antes de abordar a forma como o futebol português reagiu ao acórdão Bosman, vamos a exemplos práticos das consequências do acordo Bosman, na época 94/95 (imediatamente anterior ao acordo Bósman) o campeão europeu foi o Ajax de Amesterdão, na época seguinte o mesmo clube ainda a salvo da entrada em vigor da lei Bosman só é batido na final por uma super Juventus e nas grandes penalidades. E na seguinte cai nas meias finais, novamente aos pés da sua besta negra Juventus. Na equipa de Turim alinhavam nomes como Peruzzi, Montero, Ferrara, Zidane, Deschamps, Vieri, Boksic, Del Piero entre outros. Sim leram bem, o meio da campo da Juventus era Deschamps, Zidane e Del Piero (minha nossa!!!).
O clube holandês só conseguiu manter-se de forma constante na elite europeia porque conseguia manter uma espinha dorsal recheada de talentos por muitos anos consecutivos, a escola de formação era e é, uma referência mundial e o clube abastecia-se nas suas categorias inferiores para montar excelentes equipas. O problema é que com o acórdão Bosman, os homens de Amesterdão deixaram de ter capacidade para manter os seus melhores atletas, mal despontam aparece um “tubarão” que os leva. É verdade que em muitos casos com retorno interessante do ponto de vista financeiro mas sem retorno do ponto de vista desportivo.
Nesse Ajax alinhavam atletas de classe mundial que rapidamente ganharam asas e partiram para os clubes das grandes potências europeias. Ora vejamos: Van der Sar, ingressa na Juventus, Frank de Boer, Litmanem e Ronald de Boer voam para Barcelona, Mark Overmars assina pelo Arsenal, Patrick Kluivert e Edgar Davids vão jogar para San Siro com a camisola do AC Milan… impressionante, não? Já agora só duas curiosidades, neste Ajax jogou um português, Dani (um portento que não soube tirar proveito de um talento extraordinário) e o treinador era o bem conhecido Louis Van Gaal.
Sintomático que nos vinte anos seguintes o melhor que o Ajax conseguiu na liga dos campeões foi a presença nas meias-finais, na já longínqua época de 2002/2003. No último fim de semana, o Ajax jogou no terreno do Vitesse para a liga holandesa e fez alinhar apenas 5 holandeses na equipa inicial, de resto jogaram atletas de países como Camarões , Dinamarca , Austria, Argentina, Marrocos e Brasil. A média de idades continua a ser baixa, 23 anos, mas a equipa quase 100% holandesa deixou de ser o normal. Registem: nesta equipa jogou um avançado de 18 anos, nome? Justin Kluivert… diz-lhes alguma coisa?
É evidente que a era Bosman do futebol, atirou o futebol holandês para a segunda linha, tal como o fez com o futebol português.
Para a semana voltarei ao tema, desta vez com a forma como o futebol português reagiu ao acórdão Bosman e o que têm em comum as duas equipas do FC Porto que venceram os dois últimos títulos de campeões europeus para o futebol português.
Saudações Desportivas
Vitor Moreira – Treinador UEFA A + Elite Youth
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