Bruno de Carvalho diz que os sportinguistas “estão a deixar morrer o presidente” e que a crise no Sporting atingiu “um ponto absolutamente inaceitável”, com a direcção a viver “um clima de terror” e de bullying. Declarações numa conferência de imprensa, onde atribuiu culpas aos jogadores pela violência em Alcochete.
Bruno de Carvalho compareceu neste sábado, em conferência de imprensa, para se queixar de “bullying” e de “terrorismo”, devido às notícias que surgiram nos jornais nos últimos dias, a propósito da sua eventual participação, como autor moral, nas agressões que decorreram na Academia de Alcochete.
Numa conferência de imprensa de mais de uma hora, marcada pela auto-vitimização, e fazendo-se acompanhar de vários jornais, Bruno de Carvalho lamentou que “isto chegou a um ponto que é absolutamente inaceitável“, queixando-se de que a direcção e a administração do Sporting estão “sob um clima de terror”.
“A única coisa que falta é entrarem-nos por aqui, como aconteceu naquele acto hediondo e criminoso na Academia, e arrancarem-nos partes do corpo“, disse.
“Isto tem que ter o seu limite”, referiu ainda o presidente do Sporting, falando do “total desrespeito pelos princípios e direitos humanos” e garantindo que não teve nada a ver com as agressões.
“Os atletas são como família para mim – eu jamais, em tempo algum, deixava que fizessem mal à minha família”, notou.
Bruno de Carvalho assegurou, ainda, que a violência na Academia de Alcochete começou “numa rixa” provocada pelos jogadores com elementos da claque, depois do jogo na Madeira, mencionando directamente Rui Patrício. O dirigente nota que, “por impulsividade”, houve jogadores que não conseguiram aguentar a “frustração”.
O presidente do Sporting também acusou directamente José Maria Ricciardi e Rogério Alves de assumirem uma “tentativa clara de voltar a tentar tomar o poder”. E também deixou críticas ao empresário Álvaro Sobrinho, dono da Holdimo, a maior accionista individual da SAD leonina, notando que era bom que “pagasse aquilo que deve ao Sporting”.
Os sportinguistas “estão a deixar morrer o presidente”, também se queixou Bruno de Carvalho.
E sobre o tema das eventuais rescisões em bloco do plantel, o dirigente é taxativo. “Não pode, não deve, não pode haver qualquer tipo de rescisão“, salientou, mas sem poder garantir que não vão ocorrer. E ainda apelou aos adeptos para não enveredarem por actos de violência na final da Taça, e aos jogadores para honrarem a camisola.
Sol noticia que Bruno “não pôs entraves a apertão”
O jornal Sol deste Sábado avança que Bruno de Carvalho “deu aval” às agressões” aos jogadores do Sporting . “Façam o que entenderem”, terá dito o presidente a elementos da claque Juve Leo.
O semanário nota que há testemunhas que confirmam que o presidente do Sporting esteve na sede da Juve Leo no dia 6 de Abril, um dia depois da derrota da equipa em Madrid, e que “não pôs entraves a apertão à equipa de futebol”.
No Jornal Económico, uma fonte oficial do Sporting refere que Bruno de Carvalho teve nesse dia 7 de Abril “uma reunião, por volta das 23 horas” na “sede da Juve Leo”, no âmbito de uma festa dos núcleos da claque. O presidente do Sporting terá sido “acompanhado por um grupo de seguranças” e foi criticado “pelo facto de na festa de Natal [de 2017] não ter aceite a proposta de se fazer uma festa de homenagem a Fernando Mendes [ex-líder da Juve Leo]”, refere a dita fonte ao Económico.
De acordo com o jornal, o “ambiente azedou”, com críticas a surgirem aos jogadores, pela derrota em Madrid, e acusações de que “não jogaram nada”. Nessa altura, terá então surgido a ideia do “apertão” aos atletas.
“O ambiente estava de cortar à faca e isto tudo aconteceu depois de uma reunião com o plantel, nessa mesma tarde, onde os jogadores acusaram Bruno de Carvalho de ter mandado Mustafá [líder da Juve Leo] agredir os jogadores”, diz a mesma fonte ao Económico.
O jornal Público noticiou na sexta-feira que Jorge Jesus teria “provas” de que Bruno de Carvalho teria dado aval às agressões, algo que o treinador veio depois negar.
Entretanto, o advogado de um dos suspeitos das agressões em Alcochete refere que “muitos destes jovens estavam lá para pedir aos jogadores empenho no domingo”, conforme declarações divulgadas pela Rádio Renascença.
“Por que é que uns iam a correr e outros iam a passo? Por que é que uns entraram no edifício e outros não? As pessoas que acabaram por não ir ficaram espantadas com o que se passou. Ninguém contava com o que se passou“, sublinha o advogado Guilherme Oliveira.
Membro da Juve Leo diz que foi “autorizado a entrar”
O condutor do BMW que saiu da Academia com várias pessoas no carro, já depois de as agressões se terem consumado e com a GNR nas instalações, vem também revelar novos dados em declarações à RTP1, no programa “Sexta às 9”, e à SIC.
Nuno Torres, que faz parte da Juve Leo, diz que levava no carro o ex-líder da claque Fernando Mendes e mais três pessoas que se recusou a identificar. Ele garante que foi chamado ao local para acompanhar Fernando Mendes numa reunião com Jorge Jesus, mas o treinador já desmentiu ter qualquer reunião marcada com elementos da claque.
Este elemento também sublinha que foi “autorizado a entrar” na Academia por “alguém do Sporting” e diz que quando entrou, “a situação já tinha descambado”, garantindo que não participou nas agressões e que Fernando Mendes também não.
Quanto à responsabilidade pelos incidentes, Nuno Torres atribui a culpa a Bruno de Carvalho, realçando que “já devia ter saído” e que contribuiu para “inflamar o ambiente para esta situação”.
Jogadores vão evitar Bruno no Jamor
Espera-se que os jogadores do Sporting realizem neste sábado, pelas 16:45 horas, um treino no Jamor, com vista à final da Taça de Portugal que se realiza no domingo, frente ao Desportivo das Aves.
Os jogadores recusaram voltar a treinar nas instalações do Sporting, no seguimento das agressões de que foram alvo.
Entretanto, no dia do jogo, os atletas vão “evitar Bruno de Carvalho”, segundo o Jornal de Notícias que lembra que o plantel leonino imputa responsabilidades ao presidente pela violência sofrida.
No Tribunal do Barreiro, o juiz de instrução criminal deu por concluído o interrogatório aos arguidos envolvidos nos incidentes de terça-feira na Academia do Sporting. Dos 23 suspeitos detidos, apenas nove aceitaram prestar declarações.
No domingo, o Ministério Público vai propor as medidas de coacção para cada um dos 23 arguidos, a que se seguirá o período de alegações das defesas.
Rio defende proibição das claques
Entretanto, continua a dúvida quanto à presença de Marcelo Rebelo de Sousa na final da Taça. Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República e sportinguista assumido, já anunciou que não vai ao Jamor.
E Rui Rio, presidente do PSD, mostra-se preocupado com as condições de segurança para a final da Taça, temendo que possa surgir alguma “situação absolutamente incontrolável”.
Rio defende também que é preciso estudar a eventual proibição das claques de futebol. “Tem de estar tudo em cima da mesa”, nota, lembrando que “em Inglaterra acabaram as claques”.
Fonte: ZAP