Toda a minha vida vivi na escuridão
De uma cegueira prematura
Onde o preto era o meu arco iris.
Vivia a ver o que não via, mas sentia.
Sentia que nas minhas mãos estava a minha vida,
Totalmente depositada.
A cada passo que dava encontrava o desconhecido,
Mas, algumas vezes interrompido.
Estranhamente eu sabia o caminho,
Estranhamente não imaginava
O que poderia estar para lá da parede.
Para mim, a parede
Sempre foi simplesmente o mundo.
Um mundo que descobria quando?
Quando lhe tocava,
O sentia nas minhas mãos, sem medos.
O meu cérebro não era diferente.
A minha sensibilidade
Era profunda, harmoniosa, sem defeitos.
Nos meus olhos não via o mundo,
Mas na minha mente sentia-o
Leve, maravilhoso
Preto, vazio, mas belo.
Assim cresci,
A olhar o mundo sem o ver,
Mas com a intuição que tudo existe
Por uma razão plausível,
Que nada é impossível.
Como os meus olhos não veem, para mim,
O chilrear dos pássaros
É o sino das aves,
É o som da sua liberdade.
A minha liberdade está na sensibilidade
Que acolho e no cérebro encontro
As razões para cada existência
Do odor, do tacto, do sabor.
Mais uma vez caminho sem ver
Com a vontade de descobrir,
Para apenas viver.
É-me fácil ser feliz,
Não tenho medo de ver o que não quero,
Não me denuncio com o olhar,
Refúgio em mim as minhas opiniões.
Por vezes sinto que vejo mais
Que muitos que veem a cor do céu,
Que me indicam o caminho
Mas não sabem o seu destino.
Sinto ter a capacidade de olhar
Para dentro de cada coração
E ver o valor humano de cada um.
Não vejo é verdade,
Mas consigo sentir os valores
Que me permitem decifrar o caracter do homem.
Não vejo, mas não me perco
Na ilusão daqueles que os olhos veem,
Mas nunca sentem.
Quero continuar a ver o mundo
Com a clareza da escuridão dos meus olhos,
Iluminado pela luz do meu cérebro,
Guiado pelos meus sentidos.
Paulo Semide – Poeta
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