Depois de ter declarado durante meses que os Estados Unidos (EUA) tinham derrotado o coronavírus e que este desaparecia em breve, o Presidente Donald Trump alertou na terça-feira os norte-americanos de que o surto, que já matou 141 mil pessoas no país, provavelmente se agravará.
“Provavelmente, e infelizmente, piorará antes de melhorar”, afirmou o chefe de Estado numa reunião na Casa Branca. Recentemente, Trump apelou aos norte-americanos para usarem máscara, depois de ter rejeitada essa prática durante meses. “Use máscara. Goste ou não da máscara, consiga uma máscara”, disse Trump, frisando: “Elas fazem efeito”.
Contudo, segundo noticiou esta quarta-feira o Independent, os legisladores democratas consideraram lenta e ineficaz a resposta de Trump no combate ao novo coronavírus, criticando-o por, até recentemente, se recusar a usar a máscara em público.
Enquanto membros de ambos os partidos e alguns dos seus principais assessores têm feito um esforço para começar a trabalhar num quinto projeto de recuperação económica, o Presidente afirmou que o país não volta a fechar, algo que seria muito prejudicial em termos económicos.
Uma paralisação permanente seria “completamente insustentável”, declarou Trump, cuja popularidade tem estado em baixa nas sondagens para as eleições presidenciais de novembro, na qual enfrentará o candidato democrata Joe Biden.
“Queremos nos livrar disso [vírus]. Assim que pudermos”, sublinhou, indicando que o desenvolvimento de uma vacina está bem encaminhado. Mesmo quando estados como Arizona, Florida e Carolina do Sul registavam picos maciços de casos confirmados, Trump repetiu a sua alegação não apoiada ou fundamentada de que “o vírus desaparecerá”.
Após meses com ‘briefings’ diários sobre vírus, Trump e a sua equipa cancelaram esses encontros depois que estes se revelaram politicamente prejudiciais, incluindo um em que o Presidente sugeriu aos norte-americanos que injetassem desinfetante para matar o vírus.
O Presidente aproveitou a reunião na Casa Branca para declarar: “Fizemos muitas coisas certas. É uma pena que isto [vírus] tenha acontecido. A China devia o ter travado”. Apesar de criticado por democratas e alguns republicanos, em dois momentos do ‘briefing’ Trump se referiu ao coronavírus como a “vírus da China”.
Ainda durante o encontro, Trump minimizou as suas críticas ao uso de máscaras e atitudes controversas sobre outras práticas, como o distanciamento social. A Casa Branca tem agora tentado mostrar que o Presidente – que durante a reunião apresentou novos dados e admitiu que o surto está a piorar – encara o vírus com mais seriedade.
Antes mesmo de Trump entrar na sala de reuniões da Casa Branca, Biden criticou a resposta do Presidente à pandemia. “Nenhum país fez o que fizemos”, disse Biden à MSNBC. “Não há liderança aqui. Ele [Trump] rendeu-se”, frisou.
O Presidente disse ainda que “houve um grande progresso” no trabalho para o quinto pacote de ajuda económica. No Senado, contudo, onde se discutiam os medidas desse pacote, os republicanos discordaram, evidenciando as divergências sobre o orçamento do governo federal para combater e reagir ao surto de covid-19.
Horas antes, a secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, disse aos jornalistas que o Presidente quer medidas que englobem fundos para “testes direcionados”. A responsável referiu que Trump quer igualmente “pelo menos 70 mil milhões de dólares” (cerca de 61 mil milhões de euros) para ajudar as escolas a reabrir no outono.
Com a mesma motivação, a Casa Branca enviou o vice-presidente Mike Pence e outros deputados para a Carolina do Sul. Pence afirmou que, se os seus filhos ainda estivessem em idade escolar, se sentiria “absolutamente” confortável em enviá-los de volta para as salas de aula.
Durante a reunião na Casa Branca, a administração informou ainda que foram registados 3,8 milhões de casos no país, com alguns analistas a defender que esse número pode ser de 3 a 12 vezes maior. “Provavelmente, infelizmente, piorará antes de melhorar”, disse Trump, “algo que eu não gosto de dizer sobre as coisas – mas é assim que as coisas são”.