O antigo presidente da SAD do Leixões Carlos Oliveira negou hoje em tribunal qualquer envolvimento num alegado pagamento em dinheiro aos futebolistas da Oliveirense para que perdessem o último jogo da época 2015/16, em maio de 2016.
O Leixões ganhou a partida da 46.ª jornada da edição 2015/16 da II Liga por 2-1, em 15 de maio de 2016, com um golo nos últimos minutos, assegurando assim a manutenção na prova.
Hoje, Carlos Oliveira, à data dos factos presidente da Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do Leixões, foi o único dos 27 arguidos a querer falar na primeira sessão do julgamento do processo ‘Jogo Duplo’, relacionado com viciação de resultados no futebol, para negar todos os factos pelos quais está a ser julgado, dizendo que “nunca teve nada a ver” com adulteração, viciação ou combinação de resultados de jogos de futebol.
Em causa e envolvendo o antigo dirigente está o jogo de futebol entre o Leixões e a Oliveirense. Carlos Oliveira foi confrontado pelo coletivo de juízes, presidido por Luís Ribeiro, com a escuta de uma conversa telefónica tida com o arguido Nuno Silva, à data diretor técnico do Leixões, dois dias antes do referido jogo.
Nessa conversa o ex-presidente da SAD do Leixões pergunta a Nuno Silva: “o gajo já deu boas novidades?”. O que, para a acusação, indicia que estariam a falar de um alegado esquema de pagamento aos jogadores da Oliveirense para que perdessem o jogo.
Carlos Oliveira negou tal acusação, explicando que o “gajo” naquela conversa era o representante da empresa que fornecia os equipamentos [camisolas] ao clube, e que, segundo o então presidente da SAD leixonense falhou durante toda a época na entrega do material.
O ex-dirigente contou que para esse jogo com a Oliveirense decidiu “triplicar” o prémio do jogo para os jogadores dos Leixões [cerca de 15.000 euros ao todo e cada jogador receberia entre 750 a 1.000 euros] e contratou os serviços de uma psicóloga para realizar ações motivacionais junto dos seus futebolistas, com a concordância do treinador da equipa.
Contudo, esse dinheiro acordado acabaria por nunca ser pago, pois “tudo se desfez” e foi “impedido de continuar” no cargo, aludindo à operação policial desencadeada que culminou com a sua detenção.
O presidente do coletivo de juízes perguntou-lhe depois se “não podia estar a jogar em duas frentes”: na motivação dos seus jogadores e para que os futebolistas da Oliveirense tivessem “uma prestação menor” e perdessem a partida de futebol.
“Até podíamos jogar em todas as frentes. Não é o meu princípio. Eu não jogo”, respondeu Carlos Oliveira.
O ex-dirigente foi ainda confrontado com uma mensagem de telemóvel trocada entre os arguidos Nuno Silva e João ‘Carela’, na qual referem o seu nome como “estando a trabalhar” num eventual complô para um alegado pagamento aos jogadores da Oliveirense.
“Nunca tive nada a ver com isso. Nunca vi o senhor João ‘Carela’. Estou a negar desde o primeiro momento que tenha dado qualquer sinal a quem quer que seja fora das regras estruturais do clube”, afirmou o arguido, que responde por um crime de corrupção ativa.
Carlos Oliveira vai continuar a ser interrogado da parte da tarde, durante a qual está também prevista a audição de José Fernando Cardoso Nabais, presidente do Oriental, clube que se constituiu assistente no processo.
O julgamento dos 27 arguidos do processo denominado de ‘Jogo Duplo’, relacionado com viciação de resultados no futebol, arrancou hoje, em Lisboa.
Carlos Silva, conhecido como ‘Aranha’ e elemento da claque Super Dragões, Gustavo Oliveira, empresário, e Diego Tavares, ex-jogador do Oriental, continuam sujeitos à medida de coação de prisão domiciliária.
Entre os arguidos estão jogadores que alinharam em Oriental, Oliveirense, Penafiel e Académico de Viseu, assim como dirigentes desportivos, empresários, um elemento de uma claque, bem como outras pessoas com ligações ao negócio das apostas desportivas.
Em causa, estão crimes de associação criminosa em competição desportiva, corrupção ativa e passiva em competição desportiva e apostas desportivas à cota de base territorial fraudulentas.